Chanceler (sic) sai em defesa do golpe na Bolívia e ataca o MIT
(Crédito: Marcos Corrêa/PR)
O suposto chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, saiu neste domingo 1º/III em defesa da ditadura boliviana e do golpe de Estado que derrubou o legítimo presidente do país, Evo Morales. Araújo tentou desmerecer um estudo de dois pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) que concluiu não haver qualquer indício de fraude nas eleições bolivianas do ano passado.
"A fraude nas eleições de 2019 na Bolívia foi claríssima e está documentada pela OEA. Agora um artigo de blog questiona isso, no intuito de desestabilizar o processo de transição democrática em benefício daqueles que praticaram a fraude. Compreensível mas inaceitável", escreveu Ernesto nas redes social neste domingo.
Em um artigo publicado nesta semana pelo jornal estadunidense The Washington Post, Curiel e Jack R. Williams, membros do Election Data and Science Lab (laboratório de ciência e dados de eleições) do MIT, questionam a auditoria realizada pela OEA e afirmam não haver "evidência estatística de fraude" nas eleições bolivianas.
Leia reportagem publicada pelo Conversa Afiada, a partir do Opera Mundi, sobre as conclusões do estudo:
O jornal norte-americano Washington Post publicou uma análise nesta quinta-feira (27/02) que aponta que as eleições de outubro de 2019 na Bolívia, que indicavam a reeleição do hoje ex-presidente Evo Morales, foram legítimas, sem indicativos de fraude. A conclusão é a mesma de um estudo publicado em novembro pelo Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR).
A Organização dos Estados Americanos (OEA), convidada pelo governo boliviano para analisar o pleito, havia afirmado, à época, que teria havido fraude e recomendado a realização de um segundo turno. No entanto, um golpe de Estado derrubou Morales da presidência e instaurou um governo com características autoritárias no país.
“Não parece haver diferença estatisticamente significativa na margem antes e depois da interrupção da votação preliminar. Em vez disso, é altamente provável que Morales tenha ultrapassado a margem de 10 pontos percentuais no primeiro turno”, afirma a análise publicada no Post.
O texto dos pesquisadores John Curiel e Jack R. Williams, vinculados ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), aponta que a OEA não embasa a argumentação da fraude em estudos prévios e não traz evidências significativas que suportem a tese.
O estudos apontam ainda que foram feitas 1.000 simulações a partir dos resultados que foram divulgados previamente pelo Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia e que Morales teria, pelo menos, 10,49 pontos percentuais de vantagem sobre o opositor Carlos Mesa. Dessa maneira, venceria em primeiro turno.
“Não há evidências estatísticas de fraude que possamos encontrar – as tendências na contagem preliminar, a falta de um grande salto no apoio a Morales após a interrupção e o tamanho da margem de Morales parecem legítimos. Em suma, a análise estatística e as conclusões da OEA parecem profundamente falhas”, aponta o texto.
Com base nos resultados, os pesquisadores e outros investigadores pediram um posicionamento à OEA, que não se pronunciou.
Análise do CEPR
Ainda em novembro, pouco depois do golpe que depôs Morales, uma análise estatística divulgada pelo Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR), com sede nos Estados Unidos, já mostrava que havia não evidências de fraude nas eleições do dia 20 de outubro.
No relatório, analistas afirmam que, de acordo com análises estatísticas, "era previsível que Evo Morales obteria uma vitória no primeiro turno, com base nos resultados da TREP (Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares)".
"No final, a contagem oficial, juridicamente vinculativa e completamente transparente, com as fichas de registro disponíveis online, coincidiu com os resultados da contagem rápida", disse, no estudo, Guilherme Long, analista do CEPR.
O CEPR diz que, em mais de 500 simulações, Morales aparecia vencendo no primeiro turno. O documento estudou em detalhes o que aconteceu na contagem dos votos, que dava vitória ao ex-presidente com 83,85% na contagem rápida.
Assim como no estudo publicado pelo Post, o artigo do CEPR aponta que há questões geográficas e históricas na votação, o que dava vantagem a Morales.
Com o golpe de Estado, a então vice-presidente Jeanine Áñez se autoproclamou presidente do país. Novas eleições foram marcadas para maio, e Morales tenta se candidatar ao Senado - apesar da negativa do Tribunal Supremo Eleitoral para tanto.