Ciro: chega de atalho! Revoguem a Lei Áurea!
"Conheço a raça. Bolsonaro é um velho político da velha política!"
publicado
12/03/2019
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O Conversa Afiada reproduz do Valor trechos da entrevista de Maria Cristina Fernandes e Cristiane Agostine com Ciro Gomes, feita em São Paulo, pouco antes da que concedeu a Walfrido Warde Jr., no Iree:
"Mourão é oportunista e quer o governo"
(...) Valor: Qual é o projeto dos militares que estão hoje no poder?
Ciro: É a tutela militar, visando ao poder. Para quem conhece o caminho de truculência do general [Hamilton] Mourão e o vê agora como esse doce contraponto diário das diatribes e loucuras do Bolsonaro, só se deixa enganar se for um petista muito imbecil, como há muitos que infestam a vida brasileira. Tu acredita que tem petista conversando com Mourão?
Valor: Que pontes o PT está lançando com Mourão?
Ciro: Vou conversar com meu amigo Samuel Pinheiro Guimarães para saber que história é essa.
Valor: É ele a ponte?
Ciro: É um deles.
Valor: São pontes em torno da questão nacional ou pela acomodação da reforma da Previdência?
Ciro: Mourão é um oportunista que está muito bem guiado no marketing. E duvido que a venda da Embraer que ele aprovou seja de interesse nacional.
Valor: Mourão está agindo para assumir o governo?
Ciro: Só um pato não vê.
Valor: Ele não tem conversado com os sindicalistas no sentido de mostrar que a capitalização pode vir a repor a receita perdida com a contribuição sindical?
Ciro: Não tem capitalização nessa proposta que está aí. A proposta do governo de capitalização sem contribuição patronal é simplesmente reproduzir a tragédia que os chilenos estão corrigindo agora. Opero com cinco das seis principais centrais sindicais, tirando a CUT. As cinco são contra.
(...) Valor: Então não há chance de as duas reformas serem aprovadas conjuntamente?
Ciro: Não há a menor chance. Na estratosfera de Marte, a probabilidade seria de 1%. Na atmosfera da Terra, zero chance de as duas passarem como estão. Os deputados voltam pra casa. Chega o deputado Moses Rodrigues (MDB), que é meu adversário em Sobral, e meu deputado é o Leônidas Cristino (PDT), em Sobral. Os dois vão voltar para casa toda semana e vão dar entrevistas para o rádio: "E aí, deputado, o senhor vai ser a favor de a trabalhadora rural trabalhar 40 anos, com 20 anos de contribuição contínuos, que nem trabalhador urbano consegue?" O Leônidas vai dizer: "Não, sou contra essa aberração". O Moses que, teoricamente, é aliado de Bolsonaro, vai dizer: "Estou indeciso". O que me zanga é a burrice de certa esquerda, que ao invés de trazer para o povo essa dinâmica, fica se distraindo com causas identitárias.
Valor: A proposta da capitalização não coincide com a do senhor?
Ciro: A Previdência tem duas tarefas. A primeira é elevar o nível bruto de capital doméstico. No Brasil é criticamente baixo. A segunda é promover um mínimo de seguridade social para os idosos. Com esta reforma, todos os privilégios estão intocados. Os militares custam R$ 47 bilhões e contribuem com R$ 4 bilhões.
Valor: Mas ainda não se conhece a proposta deles...
Ciro: Não se conhece a proposta, mas conheço a raça. Conheço o Bolsonaro. Ele é um velho político da mais velha política. Votou contra tudo. Contra o Real e contra todas as reformas de Previdência que se propuseram.
Valor: A equiparação dos setores público e privado não é um proposta justa?
Ciro: É necessária, mas depende da transição. Mas tem outras distorções. Vou estabelecer para uma trabalhadora rural do semiárido uma idade mínima equivalente a um homem de trabalho intelectual de uma cidade confortável. Tem razoabilidade nisso?
Valor: A carteira verde e amarela não viria para recompor esse financiamento?
Ciro: A carteira verde e amarela agrava o problema porque legaliza a informalidade. A gente pode revogar a Lei Áurea de uma vez por todas. Chega de atalho. Já tem proposta para que o trabalhador rural trabalhe por comida e teto.
Valor: PDT e PSB foram chamados por Bolsonaro para conversar e disseram que só vão com toda a oposição. O senhor tenta se desvincular do PT, mas seu partido quer atuação conjunta no Congresso. Não são estratégias conflitantes?
Ciro: Uma coisa é organizar as forças no terreno, que é essa etapa. Então, sim, desde antes do processo eleitoral, não aceitei mais ser ministro do Lula, não aceitei ser ministro da Dilma. Só um petista doente não lembra que o desemprego, quando ela assumiu era 4% e quando saiu, era 14%. Dilma nomeou Levy e Palocci. Eu não pensava mais em ser candidato. Havia renunciado à vida pública e estava na CSN com um super salário. Renunciei a tudo para brigar. E fui agredido, caluniado, atropelado pelas costas por essa canalha da cúpula do PT. Isso é formação de quadrilha, organização criminosa, a cúpula, não a militância. Qual é a lista que o Paulo Paim entrou? E a que o Olívio Dutra entrou? O Tarso Genro, o Eduardo Suplicy, o Henrique Fontana? Nenhum deles. Só a turma do Lula.
Valor: O senhor diz que Gleisi pertence a uma quadrilha?
Ciro: Sim, não tenho dúvida. Ela é a chefe. Ela e o marido estão enrolados em tudo. Se quiserem me processar, já estou acostumado. Estou falando a verdade. Não vale me processar por dano moral. Me processe por calúnia que tenho direito a demonstrar. É só tirar certidões das acusações do Ministério Público. Quantos tesoureiros o PT tem? Estão todos presos. Lula apoiou Sérgio Cabral até o gogó. Quem nomeou Michel Temer vice, contra minha opinião?
(...) Valor: O senhor distingue divisões entre os oito que estão no primeiro escalão?
Ciro: Nuances. Conheço o general Heleno. Tenho-o na conta de um patriota e homem de bem. Agora ele é responsável se não por ação, por omissão, pela venda da Embraer, pelo general brasileiro nos EUA e pelos exercícios militares do Brasil em Roraima, e ainda de se aliar com esse canalha do Juan Guaidó que, como "The New York Times" provou, foi quem pôs fogo na ajuda humanitária. Ele é um agente da CIA.
(...) Valor: O governo está formando maioria com cargos e emendas, como todos os outros?
Ciro>: A emenda agora é liberada com 30% para o bolso do deputado. O deputado vende e não entrega. Porque este é um governo de jejunos. Esse Onyx Lorenzoni é um boboca. Vamos ver se o relator vai ter coragem de defender um BPC de R$ 400 enquanto Bolsonaro acumula duas aposentadorias, uma de capitão aos 33 anos, a segunda de deputado federal, mais o soldo de presidente, o que dá R$ 62 mil [O porta-voz da Presidência diz Bolsonaro tem o salário de presidente e o proporcional como capitão reformado do Exército. O somatório chega ao teto e o presidente devolve o excedente]. Vamos para o debate na Comissão Mista da Previdência, falar que 99,3% dos militares se aposentam com menos de 55 anos. Os militares vão gostar que o povo fique sabendo? Se eles entraram na política que aguentem. Ou então pede o boné e cai fora. Se estão dentro vão aguentar.
(...) Valor: O senhor será candidato à Presidência de novo?
Ciro: Não sei.
Valor: Qual será o quadro partidário de 2022? No que o PSDB vai virar sob o comando de Doria?
Ciro: Num PMDB mais perigoso. Mais orgânico, profissional, mafioso, gângster. Vai se transformar no PRP de Adhemar de Barros. Só existia aqui [em São Paulo]. O Tasso não acompanha, nem Alckmin nem o governador do Rio Grande do Sul. (...)
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