Ciro Gomes, qual é a sua?
Harvard é um cemitério de ideias progressistas
publicado
08/01/2019
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O Conversa Afiada publica artigo (sempre sereno!) de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:
Tinha resolvido não falar mais de Ciro Gomes, tamanha a quantidade de opiniões disparatadas emitidas pelo personagem frente ao cenário nacional. Mas a entrevista concedida pelo ex-ministro ao El País não pode passar em branco.
Não sou psicólogo, nem analista, para desvendar o que se passa na cabeça de Ciro Gоmes. Nem quero ser: sou jornalista. Estou mais para paciente do que para doutor. É melhor se ater aos fatos, sempre os fatos. Ou, como diz Mino Carta, à verdade factual.
Na citada entrevista, Ciro investe com fúria poucas vezes vista contra Lula e o PT; elege-se (com o voto dele apenas) como o pós-PT. Afirma que Lula é um preso comum, assina embaixo do processo fraudulento que eliminou das eleições o líder popular mais importante da história do país e acusa o partido dele de quadrilha.
Trata os petistas como se fossem piores que Bolsonaro, a quem dá o benefício da dúvida sobre a conversão do militar alucinado a ideais democráticos.
Um espanto. A entrevista, como diria Chico Buarque, é um “pote até aqui de mágoa”.
Ciro deve ter espelho em suas casas Brasil afora. Deveria consultá-los antes de falar tamanha quantidade de asneiras. E o que veria não seria nada agradável.
O cearense já passou por mais de seis partidos – de sucedâneos da antiga Arena até o PDT de agora. Nunca lhe ocorreu perguntar a si mesmo por que nunca construiu uma alternativa de poder baseada em militantes organizados em torno de ideais progressistas? Nunca lhe ocorreu perguntar a si mesmo por que é incapaz de agregar em torno dele fatias do povo sedentas de igualdade, direitos sociais, democracia?
Tudo indica que não. Ciro age como um coronel dos piores tempos da República Velha. “Eu estou certo e todo o resto está errado”. Um messianismo fora de época, fadado a colocá-lo permanentemente na sarjeta das grandes disputas nacionais.
Voltemos aos fatos. O candidato do PT, não importa o nome, teve mais votos do que ele na eleição. Prova de que o poder de atração do partido e de Lula, entre as forças progressistas, era muito maior do que o dele, Ciro, na contenda eleitoral. É impossível não lembrar de Leonel Brizola em 1989. Ao perceber que Lula, e não ele, havia passado ao segundo turno, Brizola não titubeou. Chamou seus eleitores a despejar votos no “sapo barbudo” contra Fernando Collor.
E Collor, perto de Bolsonaro, seria considerado um democrata.
Ciro, atualmente aboletado no mesmo PDT de Brizola (até quando?), fez outro movimento. Fugiu da raia. Foi passear pela Europa e, na volta, gravou um vídeo mequetrefe em que não se comprometia de fato com ninguém. Não sem antes tentar se aproximar do DEM e da centro-direita para tentar chegar ao segundo turno.
Os movimentos do ministro lembram as diretivas stalinistas dos anos 30. Sob as ordens de Moscou, os partidos comunistas elegeram os partidos socialistas como seu principal inimigo. Estes eram os “social-fascistas”. Graças à divisão das forças trabalhadoras, Hitler ganhou eleições. O resto da história todo mundo conhece.
Ciro Gоmes percorre trajetória semelhante. Decretar o fim do PT, apresentar-se como o pós-PT e salvador da pátria sem ter cacife para isso beira a insanidade. Mostra também a ignorância sobre como se move o povo diante de suas organizações.
O PT não é obra de Gleisi Hoffman, Fernando Haddad, Paulo Pimenta e tantos outros. O partido criou raízes dentro do povo trabalhador não apenas pela forma como nasceu, das grandes greves operárias do fim dos anos 1970. Mas também pelo que realizou no poder conquistado a partir de 2002. Por mais tímidas que tenham sido, as conquistas sociais proporcionadas pelas gestões petistas não têm paralelo na história do povo pobre do país.
Nada disso confere à direção do PT um cheque em branco ou anistia com relação a erros cometidos – e não foram poucos. A burocratização, a acomodação diante das benesses do poder e o abandono de sua base social enquanto esteve no Planalto são alguns deles. Mas a existência do partido é uma conquista de que a maioria do povo não está disposta a abrir mão. Fosse diferente, o PT nunca teria conquistado a principal bancada na Câmara, mesmo tendo sido vítima da maior campanha de perseguição e calúnias já realizada na história do país.
Ciro Gоmes não enxerga nada disso. Parece ser mais um acometido da maldição de Harvard, por onde circulou em suas andanças mundo afora.
Mangabeira Unger, um de seus gurus preferidos, também é de lá. Parece chique, mas tudo mostra que o complexo universitário encravado em território americano cumpre apenas o seu papel: um cemitério de ideias progressistas.
Não sou psicólogo, nem analista, para desvendar o que se passa na cabeça de Ciro Gоmes. Nem quero ser: sou jornalista. Estou mais para paciente do que para doutor. É melhor se ater aos fatos, sempre os fatos. Ou, como diz Mino Carta, à verdade factual.
Na citada entrevista, Ciro investe com fúria poucas vezes vista contra Lula e o PT; elege-se (com o voto dele apenas) como o pós-PT. Afirma que Lula é um preso comum, assina embaixo do processo fraudulento que eliminou das eleições o líder popular mais importante da história do país e acusa o partido dele de quadrilha.
Trata os petistas como se fossem piores que Bolsonaro, a quem dá o benefício da dúvida sobre a conversão do militar alucinado a ideais democráticos.
Um espanto. A entrevista, como diria Chico Buarque, é um “pote até aqui de mágoa”.
Ciro deve ter espelho em suas casas Brasil afora. Deveria consultá-los antes de falar tamanha quantidade de asneiras. E o que veria não seria nada agradável.
O cearense já passou por mais de seis partidos – de sucedâneos da antiga Arena até o PDT de agora. Nunca lhe ocorreu perguntar a si mesmo por que nunca construiu uma alternativa de poder baseada em militantes organizados em torno de ideais progressistas? Nunca lhe ocorreu perguntar a si mesmo por que é incapaz de agregar em torno dele fatias do povo sedentas de igualdade, direitos sociais, democracia?
Tudo indica que não. Ciro age como um coronel dos piores tempos da República Velha. “Eu estou certo e todo o resto está errado”. Um messianismo fora de época, fadado a colocá-lo permanentemente na sarjeta das grandes disputas nacionais.
Voltemos aos fatos. O candidato do PT, não importa o nome, teve mais votos do que ele na eleição. Prova de que o poder de atração do partido e de Lula, entre as forças progressistas, era muito maior do que o dele, Ciro, na contenda eleitoral. É impossível não lembrar de Leonel Brizola em 1989. Ao perceber que Lula, e não ele, havia passado ao segundo turno, Brizola não titubeou. Chamou seus eleitores a despejar votos no “sapo barbudo” contra Fernando Collor.
E Collor, perto de Bolsonaro, seria considerado um democrata.
Ciro, atualmente aboletado no mesmo PDT de Brizola (até quando?), fez outro movimento. Fugiu da raia. Foi passear pela Europa e, na volta, gravou um vídeo mequetrefe em que não se comprometia de fato com ninguém. Não sem antes tentar se aproximar do DEM e da centro-direita para tentar chegar ao segundo turno.
Os movimentos do ministro lembram as diretivas stalinistas dos anos 30. Sob as ordens de Moscou, os partidos comunistas elegeram os partidos socialistas como seu principal inimigo. Estes eram os “social-fascistas”. Graças à divisão das forças trabalhadoras, Hitler ganhou eleições. O resto da história todo mundo conhece.
Ciro Gоmes percorre trajetória semelhante. Decretar o fim do PT, apresentar-se como o pós-PT e salvador da pátria sem ter cacife para isso beira a insanidade. Mostra também a ignorância sobre como se move o povo diante de suas organizações.
O PT não é obra de Gleisi Hoffman, Fernando Haddad, Paulo Pimenta e tantos outros. O partido criou raízes dentro do povo trabalhador não apenas pela forma como nasceu, das grandes greves operárias do fim dos anos 1970. Mas também pelo que realizou no poder conquistado a partir de 2002. Por mais tímidas que tenham sido, as conquistas sociais proporcionadas pelas gestões petistas não têm paralelo na história do povo pobre do país.
Nada disso confere à direção do PT um cheque em branco ou anistia com relação a erros cometidos – e não foram poucos. A burocratização, a acomodação diante das benesses do poder e o abandono de sua base social enquanto esteve no Planalto são alguns deles. Mas a existência do partido é uma conquista de que a maioria do povo não está disposta a abrir mão. Fosse diferente, o PT nunca teria conquistado a principal bancada na Câmara, mesmo tendo sido vítima da maior campanha de perseguição e calúnias já realizada na história do país.
Ciro Gоmes não enxerga nada disso. Parece ser mais um acometido da maldição de Harvard, por onde circulou em suas andanças mundo afora.
Mangabeira Unger, um de seus gurus preferidos, também é de lá. Parece chique, mas tudo mostra que o complexo universitário encravado em território americano cumpre apenas o seu papel: um cemitério de ideias progressistas.
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