Ciro: o Brasil não aguenta outra Dilma
O Conversa Afiada reproduz do PiG cheiroso trechos da sabatina de duas horas a que o Ciro Gomes se submeteu diante do pelotão de fuzilamento da Globo Oversas (empresa que tem sede na Holanda para lavar dinheiro e subornar agentes da FIFA com objetivo de ter a exclusividade para transmitir os jogos da seleção):
De Cristian Klein e Bruno Villas Bôas
Ciro Gomes (PDT) disse que não entraria em intriga, ao participar ontem, no Rio, da segunda sabatina com presidenciáveis, promovida por "O Globo", Valor e Época. Mas partiram do ex-governador do Ceará ataques virulentos ao adversário "com punhozinho de renda" - "O [Fernando] Haddad não conhece o Brasil" -, à vice da chapa, Manuela D'Ávila (PCdoB) - criticada pela falta de experiência e maturidade -, ao padrinho da candidatura, o ex-presidente Lula, a quem vê isolado e "meio que cercado de puxa-sacos" - "Ele perdeu um pouco a percepção genial que tinha da realidade" - e ao partido que ameaça sua chegada ao segundo turno em outubro: "O PT só pensa em si".
Ciro sugeriu que Haddad pode ser alvo de impeachment como foi a sucessora e também apadrinhada de Lula, Dilma Rousseff. Deu estocadas no líder das pesquisas Jair Bolsonaro (PSL), no vice dele, o general Hamilton Mourão (PRTB) - a quem chamou de "jumento de carga" -, e engrossou a voz com os militares. Afirmou que, se fosse presidente, o comandante do Exército, general Villas Bôas, estaria demitido e "provavelmente pegaria uma cana", por ter dito que o próximo presidente pode não ter legitimidade para governar. "Eu mando, eles obedecem", disse, ao mostrar como procederia em relação às Forças Armadas.
Mesmo numa sabatina permeada por temas econômicos - em que apresentou propostas para a reindustrialização, defendeu a tributação sobre lucros e dividendos, e uma alíquota mais progressiva sobre heranças, além de detalhar seu plano de limpar o nome dos brasileiros do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) - Ciro aproveitava o gancho para criticar o adversário. O pedetista falava sobre como pretende desconcentrar o sistema bancário quando foi lembrado da tentativa de Dilma intervir no setor. Achou uma ofensa ser comparado à petista - cujo governo definiu como "desastrado" - mas comparou Haddad à ex-presidente. Fez as deferências de praxe em seu discurso - "é uma mulher honrada, decente" - para logo em seguida mandar sua mensagem. "Olha aí como é que funciona esse negócio de indicar pessoas que não têm treinamento. (...) Outro ramo é o dela, não esse [a política]", disse.
O ex-governador do Ceará afirmou que a petista foi incapaz de ter "um terço dos deputados para impedir um golpe contra o país no primeiro ano de [seu segundo] mandato". "[Isso] revela. Que é o meu medo: de uma pessoa boa como o Haddad, como é? Chegou lá [à Presidência], vai encarar a turma [Congresso] e aí, com punhozinho de renda, da USP, da Maria Antonia?", disse.
Numa estratégia de desconstruir Haddad, Ciro destacou a importância de se eleger um presidente com liderança. Contou que, quando Lula foi condenado em segunda instância, foi "cercado por praticamente 48 horas" por emissários do ex-presidente, como Dilma e Roberto Requião, para ser o vice da chapa petista. "Agradeci a honra mas disse que isso não era forma de se construir uma liderança. O Brasil não precisa de presidente por procuração, por mais respeitável que seja o outorgante. O Brasil não aguenta outra Dilma", disse.
Para Ciro, o atual candidato do PT também seria um "presidente por procuração", não por demérito, mas porque "o Haddad não conhece o Brasil". "Ele não tem experiência, daí até ele saber onde fica a Cabeça do Cachorro, o Vale do Jequitinhonha, o [Vale do] Mucuri, em Minas Gerais; mesmo em São Paulo, o Vale do Ribeira, o Alto Solimões... Aí fica difícil, de fato", afirmou.
O presidenciável continuou a associação Dilma/Haddad: "A gente já viu esse filme. No auge da crise do impeachment, a Dilma nomeou Lula ministro. Eu quase morro de vergonha naquela ocasião. E agora Lula tá na cadeia. O que vai acontecer?", perguntou, para logo desenhar uma cenário pessimista caso o PT volte ao Planalto. "Uma crise tremenda. Basta o PT voltar ao poder que essa crise vai se eternizar, porque basicamente PT e PSDB construíram isso. O espasmo mais doído e mais ameaçador é o Bolsonaro, que surgiu a partir daí", disse.
Ciro também buscou igualar o PT ao deputado de extrema direita. Em sua opinião, ambos estariam "insultando a inteligência média do povo brasileiro a toda hora". "Um por gratidão [a Lula], outro por solidariedade cristã pela violência absolutamente descabida que sofreu", disse, ao se referir à facada da qual Bolsonaro - uma "aberração" - foi alvo em ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
O pedetista afirmou que "o PT só pensa em si". "O Lula a gente tem que relativizar porque ele está isolado. Está com um problema. Ele perdeu os grandes amigos - Márcio Thomaz Bastos morreu, Gushiken morreu, o José Dirceu sofreu esse constrangimento, o Palocci está preso e infelizmente fazendo denúncias cabeludas contra o próprio Lula, perdeu a dona Marisa. De maneira que o Lula hoje está meio que cercado de puxa-sacos, ele perdeu um pouco a percepção genial que ele tinha da realidade"
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Meta para a inflação
A política monetária do governo Ciro Gomes será comprometida com a produção. Isso significa, na perspectiva dele, que o país não terá mais meta de inflação definida com três anos de antecedência e o Banco Central (BC) terá mandato para perseguir a menor inflação com pleno emprego. "Se a inflação subir, a gente vê a causa da inflação e enfrenta", afirmou. "O Banco Central será subordinado a mim", afirmou.
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Manuela x Kátia Abreu
Ciro foi questionado se seu temperamento e a rivalidade com Eunicio, presidente do Senado, não anteciparia uma relação conflituosa com o Congresso. "Quantas horas você acha que demora para ele aderir a mim?", rebateu. Sobre a possibilidade de sofrer impeachment e o país ser presidido por sua vice, a senadora ruralista Kátia Abreu (PDT) respondeu, atacando a vice de Haddad: "[O país] estará em boas mãos, certamente mais experientes e maduras que a nossa querida Manuela [D'Ávila]".