Com apoio em queda, bolsonaristas reativam robôs
No Yahoo Notícias - Em meio à crise provocada pelo novo coronavírus, a militância bolsonarista nas redes sociais tem lançado mão da mesma tática de atuação usada desde o período da disputa eleitoral de 2018, com ataques orquestrados contra adversários no Twitter por meio de uso de robôs e criação de grupos de WhatsApp para difundir informações falsas.
Apesar da atuação constante desde a posse, há, por um outro lado, constatação de que a base de Jair Bolsonaro vem caindo. No entanto, esse grupo não perde a capacidade de pautar o debate que se destaca no mundo virtual.
Um estudo amostral da consultoria Arquimedes feito após a manifestação de domingo em frente ao QG do Exército em Brasília mostrou que, após participar do ato, o presidente viu o seu apoio nas redes cair. Numa análise amostral de 38 mil menções, foi identificado o percentual de 30% de apoio a Bolsonaro. "Não há, fora do isolado grupo bolsonarista, apoio ao presidente", afirma o relatório.
Pablo Ortellado, professor da USP e coordenador do Monitor de Debate Político no Meio Digital, afirma que os bolsonaristas atuam de forma diferente em cada plataforma.
— No Twitter, há um ataque coordenado. No WhatsApp, é campanha de desinformação pesada. No YouTube, há muito uso de imagens oficiais do presidente. Canais bolsonarisitas do YouTube têm quatro vezes mais visualização do que outros canais políticos.
Ortellado relata ainda ter recebido informação de três pessoas diferentes que afirmam ter sido acrescentadas recentemente em grupos de WhatsApp bolsonaristas voltados para informações sobre o novo coronavírus.
— Como estudo isso, as pessoas me procuram. Foi feito esse relato de três pessoas com backgrounds muito diferentes.
Ainda segundo o professor, esse tipo de mobilização exige recursos porque é preciso comprar o cadastro das pessoas para serem incluídas no grupo e pagar alguém para alimentar as mensagens.
— Essa estratégia foi usada na eleição e aparentemente reativada. Isso só ocorreu na eleição porque é muito caro manter. Entre as informações disseminadas nesse tipo de grupo, está a de que os hospitais estão vazios e que o vírus é uma artimanha criada por chineses. Os assuntos são abordados em áudio, textos e vídeos.
Ortellado faz monitoramentos diários de grupos bolsonaristas:
— Constatei três coisas no meu monitoramento (desta segunda-feira): os governadores estariam inflando os números de doentes, a cloroquina seria a salvação e os governadores seriam os responsáveis pelo coronavírus porque incentivaram o carnaval.
Na última sexta-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sofreu o maior ataque até hoje no Twitter. A hasthag #ForaMaia ficou em primeiro lugar na lista de assuntos mais comentados da plataforma no Brasil.
A ofensiva ocorreu após Bolsonaro disparar, em entrevista à CNN Brasil, na quinta-feira, críticas contra Maia chegando a dizer que ele quer “enfiar a faca no governo”.
O presidente da Câmara costuma ser alvo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no mundo virtual desde o ano passado, mas os ataques de sexta-feira superaram todos os anteriores.
— Foi o maior ataque de todos os tempos contra a figura dele — afirma David Nemer, professor do departamento de estudos de mídia da Universidade da Virgínia.
Nemer identificou cerca de 1,5 milhão de menções ao presidente da Câmara. Dentro desse grupo, o professor fez uma análise amostral de 50 mil postagens e afirma que identificou 11 contas robôs. Essas contas chegam a fazer 50 retuítes num período de 10 segundos, o que é humanamente impossível.
Além dos robôs, foram identificados contas falsas ou com características de atuação profissional. Esses perfis fazem apenas postagens em favor de Bolsonaro basicamente do mesmo teor quase ao mesmo tempo.
Nemer acredita que a ofensiva no Twitter contra Maia faz parte de uma estratégia conjunta com a entrevista dada pelo presidente à CNN Brasil.
- A entrevista e os ataques no Twitter são estrategicamente coordenados. É uma tática rotineira do bolsonarismo eleger um inimigo. Na construção do inimigo, você consegue manter a sua base unida e motivada para lutar por você - afirma o professor.
Relatório da consultoria Arquimedes identificou mais de 1,3 milhão de menções da hasthag #ForaMaia. “A ação, apesar de barulhenta nas redes, tem se mostrado isolada e sem tração com o debate público, ficando restrita a um grupo de perfis de apoiadores do presidente Bolsonaro”, afirma o relatório.
A Arquimedes fez um análise amostral de 80 mil postagens e encontrou uma divisão de dois grupos na ofensiva ao presidente da Câmara. No primeiro, está a rede de apoiadores tradicionais ao bolsonarismo, em especial os seguidores do guru Olavo de Carvalho e os influenciadores mais fiéis. Já o segundo é composto de uma profusão de perfis desconhecidos, com poucos seguidores, que enviam “muitos tweets com a função de subir a hashtag sugerindo que a ação foi planejada e orquestrada”.
A consultoria encontrou 20 contas com mais de cem retuítes por hora. Esses perfis são irrelevantes na rede, com poucos seguidores e poucas publicações.