Com Manaus à beira do colapso, Virgílio cobra que Bolsonaro aja como presidente
O prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio (PSDB), contou ao Painel da Folha de S.Paulo nesta terça-feira 21/IV os detalhes do encontro que teve na véspera com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, para apresentar as demandas do município na luta contra o novo coronavírus. "O Amazonas pede socorro. SOS Amazonas. Aceitamos voluntários, médicos, aparelhos que estejam em bom funcionamento ou novos", disse.
Virgílio também criticou, na frente de Mourão, a participação de Jair Bolsonaro nos atos golpistas do domingo 19/IV em Brasília.
"Não podia deixar de condenar o presidente participar de um comício, aglomerando, e ainda por cima tecendo loas a essa coisa absurda que foi o AI-5. Cassou meu pai, Mário Covas, pessoas acima de quaisquer suspeitas, e que serviam o país. É de extremo mau gosto o presidente participar de um comício, insistentemente contrariando a OMS e os esforços que fazem governadores e prefeitos. Bolsonaro toca diariamente nas minhas feridas", disparou.
Ainda na segunda-feira, Bolsonaro voltaria a incomodar o prefeito ao dizer que "não é coveiro" após ter sido questionado sobre o número de mortes por coronavírus.
"Queria dizer para ele que tenho muitos coveiros adoecidos. Alguns em estado grave. Tenho muito respeito pelos coveiros. Não sei se ele serviria para ser coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros", afirmou Virgílio, chorando.
Tudo isso em meio ao avanço da Covid-19 pela capital do estado do Amazonas: a cidade tem, até aqui, 1664 casos confirmados de coronavírus, com 156 mortes. Ao menos 90% dos leitos de UTI estão ocupados.
À Folha, ele revelou outros detalhes assustadores: no último domingo, 17% das 122 pessoas enterradas em Manaus morreram em suas casas. Na segunda, a taxa subiu para 36% dos 106 mortos. "São números que mostram o colapso. Estamos chegando no ponto muito doloroso, ao qual não precisaríamos ter chegado se tivéssemos praticado a horizontalidade da quarentena, no qual o médico terá que se fazer a pergunta: salvo o jovem ou o velho?", diz.