Covid-19: na Suécia, exemplo de Bolsonaro, autor de plano confessa ter errado
(Wikicommons)
Via Opera Mundi - Após o governo da Suécia anunciar a abertura de um inquérito para averiguar a resposta à pandemia do novo coronavírus, o epidemiologista Anders Tegnell, que elaborou a controversa estratégia de saúde pública sueca na crise sanitária, admitiu que poderia "ter feito uma estratégia melhor".
"Se encontrássemos a mesma doença novamente, sabendo exatamente o que sabemos hoje, acredito que iríamos optar por alguma coisa entre o que a Suécia fez e o que o resto do mundo fez", disse o chefe da Agência de Saúde Pública do país a uma rádio local.
De acordo com Tegnell, o governo "conseguiria saber exatamente o que fechar para impedir a infecção de uma maneira melhor".
Questionado se o número de mortes foi maior do que ele esperava, o epidemiologista foi direto: "Sim, absolutamente". O chefe da Agência ainda ressaltou que usará as informações da atual pandemia para que o país se prepare melhor para um novo evento similar no futuro.
"Outros países começaram já com muitas medidas de uma vez só. O problema é que você não sabe o que foi mais efetivo de fato. De qualquer maneira, perto do que fizemos, você poderia fazer sem impor um fechamento total", destacou Tegnell.
Ao contrário dos demais países europeus, a Suécia optou por um enfrentamento mais brando contra a covid-19, mantendo bares, escolas para menores de 16 anos e comércio em geral abertos, confiando na população para adotar medidas de distanciamento social adequadas.
No entanto, a estratégia causou o mais elevado índice de mortos per capita na comparação mundial, gerando críticas internacionais e internas sobre a gestão da pandemia. Para se ter uma ideia, de acordo com o portal "Our World in Data", a taxa de mortes diárias na Suécia está em 5,29 há semanas - contra 4,48 no Reino Unido, 4,35 no Peru e 4,34 no Brasil.
Quando comparado aos seus vizinhos nórdicos, os índices de morte ficam ainda maiores. Enquanto o país tem 449 mortes por milhão, a Noruega tem 45, a Finlândia tem 58 e a Dinamarca tem 100 - os três adotaram medidas de lockdown. Em números totais, até esta quarta-feira, a Suécia contabiliza 4.468 mortes por coronavírus, contra 580 na Dinamarca, 320 na Finlândia e 237 na Noruega, conforme dados da Universidade Jonhs Hopkins.
Inquérito
Na segunda-feira (01/06), o primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, anunciou que o país faria um inquérito para avaliar a resposta à pandemia tanto em âmbito nacional, regional ou nas cidades. A ideia é que ele termine ainda antes do verão no hemisfério norte.
A decisão ocorre após pressão dos partidos de oposição, tanto de direita como de esquerda, que consideram que a resposta do governo foi errada e que causou muitas mortes desnecessárias, especialmente, em casas de repouso de idosos. Antes, Löfven havia anunciado que só seria criada uma investigação após o fim da pandemia.