Delator convence a PF de que o Cel. Lima recebeu grana da Odebrecht
De Vladimir Netto, no G1:
A Polícia Federal avaliou que áudios entregues por Alvaro Novis, um dos delatores da Lava Jato, reforçam a tese de que a Odebrecht entregou dinheiro a um amigo do presidente Michel Temer como contrapartida a benefícios para a empresa.
No relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal na semana passada, a PF disse ter encontrado indícios de que Temer cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a PF, Temer recebeu R$ 1,4 milhão dos R$ 10 milhões que teriam sido acertados.
Caberá à Procuradoria Geral da República avaliar o que a Polícia Federal informou e decidir se oferece denúncia.
Os áudios foram entregues no âmbito do inquérito que apura o suposto repasse de R$ 10 milhões da Odebrecht para o MDB a pedido de Temer. Segundo delatores da Odebrecht, o valor foi acertado em 2014, num jantar no Palácio do Jaburu.
Quando o conteúdo das delações se tornou conhecido, a assessoria de Temer afirmou "repudiar com veemência as falsas acusações" dos delatores, acrescentando que as doações da construtora foram por transferência bancária e declaradas à Justiça Eleitoral. "Não houve caixa 2 nem entrega em dinheiro a pedido do presidente", dizia a nota.
Procurada novamente nesta segunda-feira (10), a assessoria de Temer enviou a seguinte resposta dos advogados do presidente: "A defesa do presidente da República se manifestará no processo, negando, desde já, a prática de crime."
Transcrições
Leia abaixo as transcrições dos áudios entregues pelo delator. Nas conversas, o coronel João Baptista Lima Filho fala com interlocutores.
O coronel Lima é amigo do presidente Michel Temer e chegou a ser preso neste ano numa investigação que apura o pagamento de propina na edição do decreto dos portos. O coronel já foi solto.
- João Baptista Lima Filho - Alô.
- Interlocutor - Seu João?
- João Baptista Lima Filho - Ele mesmo.
- Interlocutor - O pessoal está aí. O senhor está no local? Aquela encomenda...
- João Baptista Lima Filho - Não, estou fora. Nós não falamos antes. Eu estou com uns compromissos agora, só vou estar lá na minha base por volta das 14h30. Como o senhor vê? Dá pra passar às 14h30?
- Interlocutor - Eu vou ver aqui e retorno. O senhor está longe de lá, né?
- João Baptista Lima Filho - Estou longe. Estou aqui para o lado de Santo Amaro. Com compromisso que não posso deixar de atender. Então, 14h30, 15h é que eu estou chegando lá na minha base.
- Interlocutor - Então, vou ver se consigo marcar para as 15h.
- João Baptista Lima Filho - O senhor faz favor e me dá uma ligada. Obrigado!
Depois dessa ligação, o coronel Lima ligou para a Argeplan. Minutos depois, telefonou para o celular da Vice-presidência da República, usado à época pela então chefe de gabinete de Temer.
Alguns minutos depois, o coronel Lima ligou diretamente para o presidente Michel Temer. Foi um telefonema rápido, de 55 segundos. Em seguida, dois minutos depois, Lima recebeu uma ligação de uma pessoa que seria responsável por entregar o dinheiro.
- João Baptista Lima Filho - Alô.
- Interlocutor - Seu João?
- João Baptista Lima Filho - Ele mesmo.
- Interlocutor - Ah, sim. Bom dia.
- João Baptista Lima Filho - Tudo bem.
- Interlocutor - Bem, hoje, então, aquela reunião foi adiada e vai ser entre 3 e 5 horas. Das 15h às 17h.
- João Baptista Lima Filho - Ok, estou por lá nesse horário.
- interlocutor - Tá. Só que nos temos três etapas dessa reunião, que vai ser quinta e sexta-feira. Agora quinta e sexta. Eu queria ver com o senhor se pode ser entre 10 e 12 horas, na quinta e na sexta?
- João Baptista Lima Filho - Veja se vocês podem me fazer isso daí às 12 horas. Eu faço de tudo pra estar as 12 horas. É possível?
- Interlocutor - De 12 vão marcar, então, porque sempre tem que dar um espaço de tempo, vamos marcar de 12 a que horas?
- João Baptista Lima Filho - 12 às 13h, tudo bem?
- Interlocutor - 12 às 13, nos dois dias. Então, está combinado.
- João Baptista Lima Filho - Combinado. Um abraço.
- Interlocutor - Combinado. Até logo. Tchau.
Poucos minutos depois dessa ligação, o coronel Lima voltou a telefonar para o celular de Michel Temer, com quem conversou por cerca de cinco minutos.
Dias depois, quando, segundo a PF, as entregas foram concluídas, um interlocutor identificado como Márcio ligou para o coronel Lima para confirmar se estava tudo certo.
- João Baptista Lima Filho - Alô.
- Márcio - João?
- João Baptista Lima Filho - Ele.
- Márcio - Opa, aqui é o Márcio, tudo bom?
- João Baptista Lima Filho - Tudo bem, Márcio.
- Márcio - Eu recebi um recado aqui. Sinceramente, não estou entendendo, acho que a pessoa está se expressando mal aqui, eu não estou entendendo. Nós tivemos 3 reuniões, quarta, quinta e sexta. Fiz uma na quarta, fiz uma na quinta e na sexta você ia demorar e me pediu que entregasse ao Silva.
- João Baptista Lima Filho - Isso. Isso.
- Márcio - Então, as três reuniões foram concretizadas.
- João Baptista Lima Filho - Tudo bem. Tem alguma previsão pra mais alguma coisa ou não?
- Márcio - Não. Ainda não tem informação nenhuma.
- João Baptista Lima Filho - Tá bom, então.
- Márcio - Então, mas essas três foi tudo certinho. O pessoal tá se expressando mal aqui, tá fazendo uma confusão do cacete.
- João Baptista Lima Filho - Tudo bem. A última, de sexta-feira...
- Márcio - Sei...
- João Baptista Lima Filho - Em que foi entregue ao Silva as atas. Elas não foram iguais às atas anteriores. Um pouco abaixo.
- Márcio - É um pouco abaixo, porque o número era quebrado.
- João Baptista Lima Filho - Tá certo. Tá certo...
- Márcio - Tá bom?
- João Baptista Lima Filho - Tá entendido, então.
- Márcio - Ok.
- João Baptista Lima Filho - Eu agradeço.
- Márcio - De nada. Um abração. Tchau.
- João Baptista Lima Filho - Obrigado. Um abraço. Tchau.
Em tempo: esse Bessinha... Vai acabar afogado no porto de Santos... - PHA