Dilma esculhamba Temer
Da Reuters:
Mudança de posição em votação sobre inabilitação mostra que senadores estavam indecisos, diz Dilma
A ex-presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira que a mudança de posição de senadores que votaram pela cassação de seu mandato e, em seguida, optaram pela manutenção de sua habilitação para cargos públicos no julgamento do impeachment no Senado nesta semana mostra que muitos deles estavam indecisos sobre seu impedimento e foram alvo de pressões.
A petista avaliou como "estranhíssima" a mudança de posição de uma votação para a outra e, em tom descontraído, afirmou que em Minas Gerais, Estado em que nasceu, "a gente ficaria desconfiada".
"Eu sei que tinha muitos senadores indecisos... desconfiados que esse processo não era o que pintavam", disse Dilma em entrevista com a imprensa estrangeira.
"O segundo voto eu acho que é voto daqueles que não consideram que de fato cabia uma punição... São senadores que não estavam decididos... que sofreram pressões, mas que votaram no sentido que eu não teria a inabilitação dos meus direitos políticos por oito anos."
O fatiamento da votação --separando a análise da cassação da avaliação sobre a inabilitação-- e o resultado da votação, que manteve os direitos políticos de Dilma, gerou rusgas na base aliada do presidente Michel Temer, com parlamentares do DEM e do PSDB cobrando compromisso do PMDB, partido do presidente, com o governo.
Na entrevista desta sexta, Dilma também disse que não tem planos político-eleitorais imediatos, que não tem como fazer planos "de hoje para amanhã" e reiterou que recorrerá a todas as instâncias possíveis contra a perda do mandato.
"Eu sempre fui ou uma militante sem mandato, ou eu fui presidente da República. Não tenho hoje nenhum projeto muito claro ou algum projeto já elaborado", disse.
Sobre os próximos passos no embate sobre a legalidade do impeachment que a retirou da Presidência, Dilma, que estava acompanhada de seu advogado José Eduardo Cardozo, voltou a dizer que irá "recorrer em todas as instâncias, porque essa é a forma correta de combate".
Cardozo acrescentou que o foco inicial é o Supremo Tribunal (STF), onde já foi protocolado um mandado de segurança questionando uma mudança na peça de acusação que teria ferido o direito de defesa de Dilma.
Segundo o advogado, ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União, deve ser apresentada uma nova peça jurídica ao Supremo entre a segunda e a terça-feira, argumentando que não houve justa causa para o impeachment. Cardozo explicou, no entanto, que não se trata de levar o STF a discutir o mérito do impeachment.
"O mérito é, a nosso ver, a avaliação política do processo. Se faltam pressupostos jurídicos, você não pode ter discussão política", disse o advogado.
Questionada sobre seus planos, Dilma afirmou que seguirá para Porto Alegre na próxima semana, mas há possibilidade de passar um tempo no Rio de Janeiro, onde a mãe tem residência.
A ex-presidente também comentou a referência feita a seus netos pela advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment. Ela disse durante suas alegações finais no processo esperar que Dilma entendesse que fazia aquilo por um país melhor, inclusive para os netos da petista. Dilma disse não respeitar uma pessoa capaz de fazer as declarações feitas pela advogada de acusação.
"O comportamento da doutora é o comportamento de uma pessoa cujas convicções não se parecem com as minhas, nem do ponto de vista político, nem do ponto de vista cultural, nem do ponto de vista humano", disse a petista.
"Não respeito uma pessoa capaz de falar o que falou. Para os meus netos, quero um Brasil democrático, cheio de oportunidades. E eles terão. Tenho certeza que terão e não é por causa da doutora Janaína."
Em tempo: Para mais detalhes sobre a entrevista de Dilma Rousseff à imprensa internacional, ver reportagem do Daily Mail.
Em tempo2: Assista à íntegra da entrevista: