Dilma: o Golpe não acabou
"Colocaram no governo uma quadrilha" (Reprodução/Pragmatismo Político)
O Conversa Afiada reproduz trechos de entrevista concedida pela Presidenta Dilma Rousseff a Katy Watson, correspondente da BBC no Brasil:
BBC - Como a senhora avalia a situação do Brasil?
Dilma Rousseff - O Brasil passa por uma situação extrema, drástica. Não tenho conhecimento de um momento tão difícil na vida política econômica e social do Brasil. Insistem numa política fiscal que está levando as creches ao fechamento, uma parcimônia de recursos absurda, com hospitais fechando, enfim, uma situação muito grave com perda de direitos na área social.
Para se ter uma ideia, quando saí do governo, o Bolsa Família abrangia 13,9 milhões de famílias. Hoje, numa situação de crise, são 12,7. Todos os programas sociais que nós fizemos estão sofrendo redução.
Por exemplo, um programa importante como o Minha Casa, Minha Vida, para as pessoas que mais precisam, que são aquelas que moram em fundo de rio, sofrendo enchente, ameaçadas, está sendo desestruturado em nome de uma pretensa eficiência. Numa gestão que hoje mesmo está discutindo que não vai cumprir o deficit que se propôs.
Além disso, você tem uma grave situação política, com o governo inteiro envolvido em acusações sérias de corrupção. O grande orquestrador do governo, a mesma pessoa que presidia a Câmara na época do meu impeachment (Eduardo Cunha, do PMDB), está preso em Curitiba. Ele (ainda) controla uma parte do Congresso. Uma situação que só posso ter palavras muito negativas para descrever.
(...) BBC - Michel Temer continua na Presidência apesar das acusações contra ele.
Dilma Rousseff - Construíram com o maior corrupto da história desse país, chamado Eduardo Cunha, um impeachment. Esse mesmo Eduardo Cunha foi eleito por 267 votos (à Presidência da Câmara). Há indícios absolutos de que ele comprou a sua eleição com o auxílio de alguns empresários, e através de processos de corrupção.
Veja, o presidente Temer comprou sua impunidade com quase o mesmo volume de votos. São as mesmas pessoas que votaram para eleger o deputado Eduardo Cunha, as mesmas impediram que o atual presidente da República fosse julgado.
Acontece que colocaram no governo uma quadrilha. Não pense que o que ocorreu naquele dia do meu afastamento se encerrou.
BBC - O ex-presidente Lula foi condenado na Lava Jato. Então, em que o PT é melhor do que outros partidos?
Dilma Rousseff - A diferença é que a acusação do Temer tem vídeo, que mostra a mala. Do que acusam o Lula? De ter um apartamento que não está no nome dele. Que está no nome da empresa. E que a empresa deu esse apartamento como garantia para um banco. Mas podia não ser propriedade dele. Ele nunca usou esse apartamento.
O Ministério Público disse que ele recebeu esse apartamento porque era presidente e, portanto, por benefício que poderia conceder à empresa na Petrobras. Só tem um pequeno problema. O juiz disse que não foi assim. Que ele não recebeu, que não foi por conta da Petrobras... Lula não tem mala de dinheiro. Não usou o apartamento, nunca morou.
No Brasil você tem dois pesos e duas medidas. O presidente Lula eles condenam a nove anos. A pergunta é: por quê? É porque eles são maus, perversos? Até podem ser, mas não é por isso. O golpe tem um primeiro capítulo que é meu impeachment. Mas tem um segundo, que é impedir que o presidente Lula seja candidato em 2018.
BBC - A senhora acredita que Lula é a resposta que o Brasil precisa? O país não precisa de um novo líder, sangue novo?
Dilma Rousseff - Desde quando o novo é necessariamente novo em relação a um conceito positivo? O novo pode ser um Hitler. Não há garantia nenhuma. O povo reconhece o Lula porque durante o governo do presidente o povo viveu melhor. Não tem nenhuma manipulação.
Nós sabemos que a democracia tem suas falhas, mas continua sendo o melhor regime possível. Eu acredito que eles não vão simplesmente tirar o Lula da eleição. Tem a 3ª fase do golpe, que é implantar o parlamentarismo. Que já perdeu em plebiscito duas vezes. E esse processo vai vir com a tentativa de manter o controle político conservador do Congresso.
(...)