Doleiro Funaro vai ferrar Temer
O Conversa Afiada extrai do Globo Overseas Investment BV trechos de reportagem de Jailton de Carvalho e Gustavo Schmitt:
Em um segundo depoimento à Polícia Federal, nesta quarta-feira, o doleiro Lúcio Bolonha Funaro fez revelações que podem complicar ainda mais a situação do presidente Michel Temer e do ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, investigados por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça. Chamado para esclarecer pontos incompletos do interrogatório anterior, ocorrido no dia 2 deste mês, Funaro respondeu a todas as perguntas do delegado que está à frente do inquérito. O depoimento se prolongou por mais de quatro horas, o que indicaria o forte interesse dos investigadores nas informações fornecidas pelo operador.
No primeiro depoimento, Funaro acusou Geddel de fazer sondagens para saber se ele iria mesmo fazer acordo de delação premiada, como estava sendo ventilado pela imprensa. O ex-ministro, um dos principais aliados de Temer, teria ligado várias vezes para a mulher de Funaro em busca de informações sobre os planos do doleiro. Em uma conversa com Temer, em 7 de março deste ano, o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, disse que estava pagando mesadas a Funaro e ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para que os dois não fizessem delação. Temer teria dito, “tem que manter isso. Viu?”.
Funaro afirmou também que até ser demitido, Geddel era o principal interlocutor de Joesley no governo. A questão é importante porque, ainda na conversa com Temer, Joesley diz que, com Geddel fora de cena, precisaria de um novo interlocutor. Temer indica, então, Rocha Loures para tratar de “tudo” com o empresário. Dias depois, o ex-assessor sai a campo e trata de decisões e cargos estratégicos do governo com Joesley. Em outro momento, é filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud, operador da propina da JBS.
(...) Funaro está preso no Complexo Penitenciário da Papuda desde junho do ano passado. Ele é acusado de se associar ao ex-deputado Eduardo Cunha para desviar dinheiro público e construir uma rede de poder político a partir de financiamento legal e ilegal de campanhas eleitorais de determinados candidatos. O doleiro é suspeito de ter intermediado um repasse de R$ 4 milhões da Odebrecht para um grupo de políticos do PMDB mais próximos a Temer. Parte do dinheiro teria sido entregue por Funaro no escritório de advocacia de José Yunes Filho, um dos ex-auxiliares e amigo pessoal de Temer.
(...) A tentativa de Funaro de fazer acordo de delação aumenta a pressão sobre Temer. O presidente e pelo menos oito ministros já estão sendo investigados por corrupção. O movimento do operador, aliás, já teria provocado forte reação de Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba. Até recentemente, o ex-deputado considerava impossível que o ex-operador partisse para uma colaboração. Isso torna também fragiliza a posição de Cunha, que tem quatro mandados de prisão.
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