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Eleitor do Bolsonaro sabe quem ele é

Wanderley no Cafezinho trata das multidões furiosas
publicado 18/10/2018
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Cartier-Bresson

O Conversa Afiada reproduz do Cafezinho artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos:

As Multidões Furiosas


É impressionante a intensidade da repulsa à diferença que se observa tanto em eleitores de Jair Bolsonaro quanto de ilustres antigos e novos eleitores do PT.

Embora não surpreenda certo dogmatismo dos conservadores, o grau de belicosidade nas páginas da internet ultrapassa até mesmo o extremismo de campanhas de antes de 1964, ao estilo de Carlos Lacerda e de Juarez Távora. Há algo mais do que opção política nas declarações ameaçadoras dos eleitores de Bolsonaro.

Surpresa é a correspondente virulência da versão petista da esquerda, por igual enojada do respeito devido à divergência. Acatar contraditórios já foi característica da esquerda, reconhecida providência contra mumificações. Pois é de espantar a clausura de onde o eleitorado petista dispara vitupérios contra a menor crítica às palavras de ordem, cada vez mais desconexas e, pior, volúveis.

Formou-se e desfez-se uma frente democrática sem fundo de votos, desapareceram propostas de governo, quando não substituídas pela negação delas, e personalidades públicas foram bajuladas no domingo para serem estigmatizadas na segunda-feira. Há bem mais do que opção programática na renúncia à racionalidade do debate nas redes sociais petistas ou associadas.

Essa ruptura tectônica não expressa divisão efetiva entre milhões de eleitores brasileiros, lidas suas respostas a inquéritos de opinião, particularmente as registradas na extensa pesquisa do IBOPE, realizada em 13 e 14 de outubro, sobre o segundo turno das eleições presidenciais. Para além da ponderável superioridade nas intenções de voto em Jair Bolsonaro sobre Fenando Haddad, a consciência dos eleitores, de um e outro lado, quanto ao significado dos votos que pretendem depositar, é de impressionante nitidez.

O eleitorado de Fernando Haddad, por exemplo, sabe e declara em porcentagens elevadas que Jair Bolsonaro interpreta os interesses dos ricos, dos empresários e dos bancos. Extraordinário é que os eleitores de Bolsonaro, maioria entre homens, mulheres, nível de escolaridade, categoria etária, em todas as rubricas de renda (exceto uma), nas capitais, periferias, interior, pequenos, médios e grandes municípios, denominação religiosa e regiões, exceto o Nordeste, tenham a mesma percepção dos eleitores de Haddad. Eles não ignoram nada disso e, não obstante, declaram intenção de voto em Bolsonaro, em volume distante do equilíbrio competitivo que a radicalidade das emoções sugere.

A fúria expressa em baixo calão ou em manifestos melosos intoxicou parte da classe média, em especial a ilustrada, e não representa o embate por votos entre os comuns. Apresentar a disputa como combate pela democracia constitui apropriação indébita de um patrimônio de todos os brasileiros, inclusive dos que não votarão, votarão nulo, ou branco. É a eleição e o respeito a seus resultados que caracterizam a democracia. O resto é engodo.