Evo Morales: elite boliviana foi "do racismo ao fascismo e do fascismo ao golpismo"
Manifestante segura a "wiphala", a tradicional bandeira dos indígenas dos Andes, em protesto de imigrantes bolivianos contra o Golpe e a favor de Evo Morales. Avenida Paulista, São Paulo, 17/XI (Créditos: Elineudo Meira/Fotos Públicas)
O presidente legítimo da Bolívia Evo Morales, atualmente em exílio no México, afirmou em entrevista ao jornal Página 12 de Buenos Aires neste domingo 24/XI que ele e seu partido, o MAS (Movimento Ao Socialismo), apoiam o plano para a realização de novas eleições no país.
Evo Morales disputou e venceu as eleições de 20/X, garantindo assim seu quarto mandato presidencial. A oposição de direita não aceitou a derrota: sem qualquer prova, alegou indícios de fraude eleitoral e convocou protestos contra o governo legítimo.
Após um "empurrãozinho" do governo de Donald Trump, os militares aderiram ao Golpe e "convidaram" Evo a se retirar.
O presidente apresentou sua renúncia no dia 10/XI.
Com apoio do Exército, a senadora Jeanine Áñez assumiu a presidência de forma irregular em 13/XI. A esquerda imediatamente organizou uma série de manifestações contra o governo golpista.
A resposta foi dura: militares e policiais mataram pelo menos 32 apoiadores de Evo Morales nas últimas semanas - em sua maioria, indígenas e camponeses pobres.
Neste sábado 23/XI, um acordo entre o MAS e o governo golpista da senadora Áñez foi aprovado por unanimidade no Senado e na Câmara dos Deputados, abrindo o caminho para a realização de novas eleições.
Apesar de ter o controle do Senado, o MAS aceitou uma exigência dos partidos de direita: o projeto impõe um limite de dois mandatos presidenciais a qualquer candidato - o que, na prática, impede que Evo Morales concorra novamente.
Na entrevista ao Página 12, Evo anunciou seu apoio à medida: "vamos a fazer tudo o que é possível pela unidade. E pela pacificação eu renuncio à minha candidatura", disse o presidente legítimo.
Ele continua: "vou fazer o possível para ajudar na pacificação da Bolívia. Renuncio à minha candidatura, ainda que eu estivesse autorizado a apresentar-me como candidato à presidência. Não estou reclamando. Afirmo que renuncio para que não haja mais mortes nem mais violência".
Em seguida, Evo Morales fala sobre os motivos que o levaram a renunciar no dia 10/XI: "Eles [os apoiadores do Golpe] capturaram meus companheiros sindicalistas, os militantes, os governadores, os prefeitos e falaram que queimariam suas casas se eu não renunciasse à presidência. Capturaram o irmão do presidente da Câmara e disseram: 'se seu irmão não renunciar, vamos queimar você em praça pública'".
Ele conclui: "do racismo ao fascismo e do fascismo ao golpismo. É isso o que aconteceu na Bolívia".
Em tempo: assista também à análise do jornalista Rodrigo Vianna na TV Afiada: o Golpe na Bolívia é racista e fundamentalista!
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