Fernández: "economia que cai se levanta; vidas, não"
(Crédito: Presidência da Argentina)
Via Opera Mundi - O presidente argentino, Alberto Fernández, anunciou a extensão do isolamento social, preventivo e obrigatório até dia 13 de abril, fez dura advertência contra os que demitirem empregados e avisou aos empresários que "chegou a hora de ganharem menos". Decisões do governo e popularidade do chefe de Estado têm mais de 90% de aprovação, segundo sondagens.
"Tomei a decisão de prolongar a quarentena. É a recomendação que me fazem os especialistas. Por isso, o isolamento social, preventivo e obrigatório, que dispus há dez dias, será até o dia em que terminar a Semana Santa (dia 12, inclusive)", anunciou o presidente Alberto Fernández num pronunciamento, no final da noite deste domingo (29/03), a partir da residência presidencial de Olivos, onde durante o dia recebeu um comitê de crise formado por oito dos maiores infectologistas e epidemiologistas do país.
Depois de ter o aval sanitário, Alberto Fernández procurou, por videoconferência, o consenso político com todos os governadores para estender por mais 11 dias, o isolamento total que começou no último dia 20 e que terminaria, inicialmente, no dia 31. Se a nova data não for também prolongada, a Argentina terá ficado 24 dias em quarentena total.
"E o que vamos conseguir com isso? Controlar a transmissão do vírus. E, como o vírus completa o seu ciclo no corpo humano entre o 10.º e o 14.º dia, ao prolongarmos a quarentena, vamos conseguir que o ciclo do vírus no corpo humano se complete até duas vezes. Assim, vamos ter dados mais claros para podermos trabalhar sobre quem teve o vírus e para podermos atender adequadamente", explicou Fernández.
O presidente argentino concluiu que, ao estender o período de isolamento, o país não comete o erro de países europeus, como Itália e Espanha, que demoraram para tomarem decisões.
"Se vocês compararem a nossa curva de crescimento com a daqueles que países que aplicaram tardiamente a quarentena, vão perceber tudo o que ganhamos", apontou Fernández, vangloriando-se do pioneirismo argentino que se antecipou aos fatos.
"Somos um caso único no mundo de um país que aplicou a quarentena plena, assim que foi conhecido o início da pandemia. Nenhum outro país fez isso", comparou.
Mais de 23 mil infratores
Com dados em mãos, o presidente argentino fez um balanço dos últimos dias para pedir aos argentino que se orgulhassem do que foram capazes.
"Quero que todos fiquem contentes. Mais de 90% dos argentinos cumpriram cabalmente com a quarentena que propusemos. Nos 10% restante, foram trabalhar enfermeiros, médicos, forças de segurança, forças armadas, trabalhadores de transporte de carga, de supermercados, de farmácias", agradeceu o presidente, lamentando, no entanto, pelo "número muito baixo de gente que não cumpriu".
Segundo Alberto Fernández, entre os dias 21 e 27 de março, as forças de segurança controlaram 568 mil pessoas e 118 mil veículos. Como resultado desses controles, foram apreendidos 3.778 veículos e 23.111 infratores tiveram causas penais abertas.
"A imensa maioria cumpriu. Só um grupo reduzido se achou mais esperto do que os demais. Essas pessoas terminaram pagando as consequência, privando-se do seu automóvel que ficou sequestrado e suportando um processo penal que ficará nos seus antecedentes", sentenciou.
Economia se recupera; vidas perdidas, não
O presidente Alberto Fernández disse que, embora a Saúde tenha prioridade sobre a Economia, o governo tomou as decisões para garantir que os salários possam ser pagos e apelou aos empresários que entendam a solidariedade que a pandemia impõe.
"Não vamos cair no falso dilema de Saúde ou Economia. Uma economia que cai sempre se levanta, mas uma vida que termina não levantamos mais", indicou, ressaltando as medidas tomadas para garantir dinheiro aos setores informais empobrecidos e para ajudar as empresas a obterem créditos subsidiados para pagarem os salários.
"Por isso, não me agrada ver que alguém demite um empregado. Assim como serei duro com que não respeitar o acordo de preços máximos num momento de extrema necessidade da sociedade argentina, serei duro com aqueles que despedirem gente", advertiu.
Aos empresários: "Chegou a hora de ganharem menos"
"Se alguma coisa essa pandemia tem de ensinar-nos é a regra da solidariedade. Aqui ninguém se salva sozinho. Aqui, do que se trata, para muitos desses empresários, é de ganhar menos; não de perder", avisou, com uma mensagem direta aos empresários: "Bom, rapazes, chegou a hora de ganhar menos".
Fernández pediu aos argentinos a encararem o que resta do isolamento com alegria para a dor ser menor.
"Peço-lhes que, com a alegria de que estamos fazendo coisas boas, assumamos os dias que restam de quarentena. A Argentina é a nossa casa comum e temos de cuidá-la muito. Esse caminho está começando. Não temos nenhum resultado garantido, mas sabemos que se cumprirmos a dor será menor", concluiu Alberto Fernández.
Embora a sociedade argentina seja politicamente polarizada, sendo o presidente representante de um desses polos, em vários bairros da capital foram ouvidos aplausos das janelas num fenômeno de união poucas vezes visto na história do país.
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