FHC, novo keynesiano, chama liberalismo de ilusão
Em 1994, prestes a tomar posse como presidente da República, Fernando Henrique Cardoso foi à tribuna do Senado para decretar o fim da era de Getúlio Vargas.
"Eu acredito firmemente que o autoritarismo é uma página virada na História do Brasil. Resta, contudo, um pedaço do nosso passado político que ainda atravanca o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas — ao seu modelo de desenvolvimento autárquico e ao seu Estado intervencionista", disse à época.
O aqui também chamado de Príncipe da Privataria fez um governo aos seus moldes: neoliberal, submisso aos Estados Unidos e com muitas privatizações suspeitas.
Pois não é que neste domingo (19/IV), em entrevista ao Estadão, FHC que o liberalismo que ele tanto defendeu está em xeque?
"O Estado atuante e necessário, nem o mínimo nem o máximo. Na hora da crise todo mundo vira keynesiano (quem segue o economista inglês John Maynard Keynes) e quer que o governo gaste e dê dinheiro para quem não tem emprego. Aí se vê que o Estado tem uma função reparadora importante. Por que só na época das crises? Tem sempre. A intensidade aumenta ou diminui. A ideia de um liberalismo total é uma ilusão", disse o ex-presidente.
Governo Bolsonaro
Na mesma entrevista, FHC defende que o PSDB vá de vez para a oposição do governo Bolsonaro.
"Ficar nessa posição de que não é quente nem frio não é o melhor. Essa polarização que houve no Brasil é ruim para as pessoas que são razoáveis, e eu procuro ser razoável, mas ela existe. É um dado da realidade brasileira. O PSDB corre o perigo de não ficar nem cá, nem lá. Doria entendeu isso e avançou", apontou.
Para ele, João Doria, governador de São Paulo, se fortaleceu na crise provocada pelo coronavírus.
"Mostrou que tem decisão. Decidiu enfrentar o presidente. Nesse momento quem está colhendo mais frutos é o Doria. O Doria tem mostrado capacidade de sobreviver na crise", concluiu.
A entrevista completa ao repórter Pedro Venceslau está aqui.