"Flexibilização" de Bolsonaro é como a da pandemia: não funciona
(Aroeira)
Por Fernando Brito, do Tijolaço - Encurralado, acossado por todos os lados, Jair Bolsonaro adota, desde a prisão de extremistas de direita e a de Fabrício Queiroz, um inédito “low profile” nas suas manifestações.
Pouco efeito faz, por conta da escalada de agressividade que ele protagoniza desde sempre e, muito mais, depois que a pandemia do novo coronavírus ter aportado por aqui.
Jairzinho Paz e Amor é algo que não “cola” nem entre os seus, nem entre os que lhe são contrários.
Bolsonaro perdeu o que um governante não pode perder, a respeitabilidade.
Pior, a ideia de viabilidade, que é o mais grave..
Já pouca gente acredita que Bolsonaro vá ao final de seu mandato – que dirá à sonhada reeleição – e o que consegue de adesões são no esquema “é hoje só, amanhã não tem mais”.
Ninguém razoavelmente esclarecido faz apostas de longo – ou mesmo médio – prazo na viabilidade de seu governo.
Investigações e decisões judiciais se tornaram elementos externos que estão plantados no coração da crise de um governo sem base política, sem liderança pessoal, sem diálogo institucional e dado a pequenas espertezas. Tudo temperado pela mais asquerosa indiferença ao drama das mortes em penca e a imobilidade militarista do Ministério da Saúde.
Todos os dias, embora não lhe venha ainda um ataque mortal, Bolsonaro vai acumulando hematomas e escoriações. Só ontem, veja a lista: busca pela mulher de Queiroz, polêmica desmoralizante sobre o “remendo”, depoimento do General Augusto Heleno negando dificuldades nas alegadas mudanças na sua segurança pessoal, a impensável sentença que o obriga a usar máscara e o pedido reiterado da Polícia Federal para ouvi-lo no inquérito sobre interferências indevidas na própria PF.
Como nas estatísticas da Covid-19, tudo em apenas 24 horas.
Pois é nesta triste metáfora que os fatos dramáticos da pandemia nos permite fazer que se encontra a perfeita definição: no governo Bolsonaro, a “flexibilização” tentada pelo presidente – reabrindo o comércio de cargos com o Centrão – só agrava a situação de seu governo, que é grave e para a qual não se enxerga alguma cloroquina mágica.