Império decidiu provocar a guerra civil
O Conversa Afiada tem o prazer de publicar o novo Correio do Saturnino, do ex-senador Saturnino Braga:
A Venezuela
A América Latina tem um forte fio de unidade na sua história e na sua cultura. Trezentos anos de colonização ibérica, com alguma diferença de caráter entre Espanha e Portugal. Todas as independências nacionais feitas nas primeiras décadas do sec XIX, contemporâneas do enfraquecimento das metrópoles pela guerra napoleônica, quase todas assumindo a forma republicana, influência da Primeira República da França e da primeira república do mundo, a norteamericana das 13 colônias da beira do Atlântico, no final dos mil e setecentos.
Só o Brasil tornou-se independente na forma monárquica, sob a chefia do filho do Rei de Portugal. Uma independência sui generis, sem grande luta, abrangendo todo o enorme território colonial, talvez por isto mesmo, por ter sido feita por um Rei, que simbolizava a unidade.
Todos tiveram a ajuda inglesa na independência e a tutela imperial britânica subsequente. A Argentina logo se destacou pela grandeza e pela fertilidade do pampa, uma das maiores extensões de terra especialmente fértil do mundo; o Chile pelas suas grandes reservas de cobre e o Brasil pela sua grandeza territorial e suposta abundância de recursos desconhecidos.
No início do século XX quando, gradativamente, a tutela britânica foi sendo substituída pela força da presença econômica norteamericana, descobriu-se o petróleo na Venezuela, em grande quantidade. Redenção e perdição do país.
Redenção pela grande riqueza natural da nação; perdição pela paralisia econômica dos demais setores produtivos resultante do usufruto da produção do “ouro negro”. Perdição pela estrutura social e política que se formou paralelamente a esta estrutura econômica, comandada por uma classe média alta que dominava a exploração do petróleo. Perdição pelo grande interesse da potência do Norte neste petróleo e pela dominação política que passou a exercer sobre o país, em aliança firme com a oligarquia local que apoiava uma sucessão de ditaduras duradouras. O mais caricato, e talvez o mais o mais duradouro dos ditadores sulamericanos foi Juan Vicente Gómez, o famoso Gómez da Venezuela.
A Venezuela foi, durante todo o século XX uma nação rica com um povo muito pobre, sem oportunidades de trabalho e de ascensão. Caracas foi uma grande metrópole sulamericana cercada pela maior favela do continente.
Até o final do século XX, quando uma revolução militar, chefiada pelo coronel Hugo Chávez, tomou o poder com o firme propósito de libertar o país do jugo imperialista e mudar esta estrutura social e econômica doentia, injusta e sem nenhum futuro. Claro que a dominação americana se fez presente e logo golpeou o novo presidente. Mas Chávez , preso no início do golpe, venceu a força do Império, com grande apoio popular e dos seus companheiros de farda, e voltou ao poder para continuar sua obra remodeladora. Quis o destino que fosse impedido pela saúde e pela morte prematura.
Maduro era o vice, o sucessor natural. Assumiu a presidência e foi posteriormente confirmado pelo voto popular numa eleição direta que teve observadores internacionais de expressão.
Não tinha, entretanto, as qualidades políticas e carismáticas de Chávez, e a velha oligarquia dominadora, com forte estímulo e apoio do Império, moveu um processo de sabotagem econômica e mobilização política oposicionista, com a mídia fiel, para desestabilizar o novo presidente.
Conseguiu a desestabilização mas não derrubou Maduro, apoiado pela população mais carente e pelas Forças Armadas.
O Império ensaiou então a intervenção armada. Trump trombeteou uma invasão, não com a intenção de jogar logo os “marines” na Venezuela, mas de estimular uma invasão do Brasil e da Colômbia para depois apoiar a intervenção e tomar conta do petróleo.
Mas Brasil e Colômbia não ousaram cumprir o convite do Império e recusaram assumir o papel de uma intervenção que, ademais do ESCÂNDALO internacional e da severa e unânime condenação da América Latina, poderia causar os prejuízos incalculáveis de uma guerra demorada e até de uma derrota, tendo em vista a disposição dos venezuelanos e a ajuda da Rússia.
A decisão do Império foi, então, de aprofundar a sabotagem e a desestabilização, e provocar uma guerra civil, criando, para este fim, um governo paralelo chefiado pelo líder da violência oposicionista, logo reconhecido por eles e seus aliados.
E, nesta rota segue o drama venezuelano, à beira de uma guerra civil catastrófica, cujas consequências para o continente sulamericano são IMPREVISÍVEIS.
Só um país teria condições de mediar uma solução capaz de evitar a eclosão da violência arrasadora na Venezuela: o Brasil; mas o Brasil soberano e democrático de antes, o Brasil de força moral no mundo; não o Brasil ridículo de hoje, que condena e prende seu maior líder, e elege um presidente sabujo do Império, um presidente que se pela de medo do líder do povo, um presidente sem condições culturais e morais para desempenhar uma função desta envergadura.
LAMENTAVELMENTE.
Roberto Saturnino Braga
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