Itaúúú: Bolsonaro apunhalou Alckmin
O Conversa Afiada recebeu de amigo navegante petista essa afiada análise do Itaúúúú, que agora incorpora a XP:
XP Política - A quebra do monopólio do papel de vítima nacional
1- Jair Bolsonaro ontem foi esfaqueado em um ato de campanha. O atacante declarou que recebeu uma ordem “de Deus”.
2- É óbvio que se trata de uma tragédia com reflexos eleitorais e futuros. Temos de realizar que vivemos em um país em que vereadoras são fuziladas e candidatos esfaqueados. Este é o Brasil desses tempos. É óbvio que Marielle Franco e Jair Bolsonaro são vítimas. Querer colocar a culpa em algum dos dois pelos tristes fatos ocorridos é inaceitável.
3- Bolsonaro é vítima, e assim é visto hoje no país. Goste você ou não do candidato, o fato é esse. Lula já não ocupará o noticiário como protagonista único neste papel. Bolsonaro cresceu aí.
4- Vai acontecer uma onda pró-Bolsonaro que o carregará nos braços do povo, forças de esquerda destroçadas, vitória certa para o ex-capitão? Não, claro que não. Mas ficou mais difícil para seus adversários disputarem as eleições contra ele em termos simbólicos e táticos.
5- Em termos táticos, Bolsonaro talvez vivesse seu pior momento no ano: sem campanha competitiva, ele perdia poder de fogo e fazia campanha defensiva. Os ataques aumentariam e ele disputaria a vaga de segundo turno logo mais como qualquer outro mortal. Apanhava em horário nobre em rede nacional, respondia por redes sociais. Agora, os oito segundos de tempo de TV de Bolsonaro se convertem em 24 horas de cobertura. Dissemos isso de Lula quando de sua prisão, usamos a mesma reflexão para Jair Bolsonaro: até um eventual resfriado seu será notícia nos próximos dias.
6- Quando o goleiro cai, o jogo para. Bolsonaro terá esse efeito nos próximos dias. Sofre mais com isso Geraldo Alckmin, que tinha Bolsonaro na linha de tiro de uma competente campanha. Como agredir um convalescente? A própria campanha tucana reconhece que o “tempo perdido” pela trégua é o pior dos efeitos.
O partido conseguiu alterar o planejamento de mída e suspendeu os ataques na televisão a Jair Bolsonaro até segunda-feira. A partir daí a campanha avalia que, a depender do grau de recuperação do adversário, já pode começar a retomar a programação normal. Está sendo discutida uma reorientação na estratégia de abordagem a Bolsonaro, evidenciando um discurso já pregado por Geraldo Alckmin contra o radicalismo. O problema aí é o equilíbrio para não soar oportunista nem parecer que se está justificando o ataque.
7 - O PT vai ver o antipetismo reforçado, mas nos parece até um tanto óbvio que é difícil ver massas de eleitores no campo do Lulismo deixando de votar em Haddad ou Ciro Gomes por causa desse episódio. O antipetismo ficar mais forte, ou mais sólido, não significa necessariamente uma diminuição do petismo/Lulismo.
8 - Bolsonaro passará Lula no monopólio do noticiário nos próximos dias. O país semana que vem discutiria a substituição de Lula por Haddad, os ataques de Alckmin a Bolsonaro, e se perguntaria se o candidato aguentaria até o fim do mês sob fogo cerrado. A agenda mudou. O PT terá que dividir esse noticiário com o hospitalizado candidato, e Alckmin deve ficar restrito ao seu programa de TV. Marina, Ciro e os outros candidatos terão ainda menos espaço.
9 - Em termos simbólicos, Bolsonaro pode agora reconfigurar sua campanha como bem entender. Cabe um Bolsonaro vítima, cabe o Bolsonaro “fênix renascida”, o Bolsonaro conciliador, cabe a imagem que ele queira - ou consiga, já que politicamente o deputado seguirá sendo alguém com claras limitações de reposicionamento e repertório de discursos - mas abre-se esta janela. Ter a iniciativa e janelas para reposicionamentos em política é sempre muito bom.
10 - Por pelo menos dez dias veremos uma avalanche de Bolsonaro na televisão, depois a tendência é de alguma acomodação. Aí a campanha poderá recomeçar como a víamos até ontem, mas mesmo isso será ditado pelo quadro de saúde de Bolsonaro. As campanhas que não têm tempo a perder, como a de Haddad e de Alckmin, sofrerão um tanto com isso. Alckmin mais, Haddad menos: bastará neste momento que ele lamente o ocorrido e volte a repetir o seu mantra de quatro letras: Lula, Lula, Lula. Seus eleitores estão ali no primeiro turno, não tem nenhum sentido olhar para os lados em busca de algo diferente.
11 - Marina Silva na eleição passada foi beneficiada com a tragédia de Eduardo Campos e subiu nas pesquisas. Só que Marina em 2014 herdou votos, mas não os segurou. Bolsonaro dificilmente devolverá o que este episódio lhe render em termos eleitorais. Ele, diferente de Marina Silva, é alguém que entende de estratégia, tática, e de comunicação dirigida a seu público.
12 - Por fim, reafirmamos: não, Bolsonaro não resolveu as eleições, não, o PT não morreu. O jogo vai ser rearranjado, e neste novo tabuleiro quem vai ter que encontrar espaço novo de posicionamento é Geraldo Alckmin.
XP Política