Janio e o bolsonarismo: isso não acaba bem!
Janio: movimento que tirou Lula da eleição não nasceu no Brasil!
O jornalista Ricardo Melo recebeu, na segunda-feira 27/V, Janio de Freitas no Programa Contraponto, da Rádio Trianon.
Em pauta, os protestos a favor (sic) do Governo Bolsonaro, as graves falhas na construção da Oposição ao bolsonarismo e o futuro do País.
O amigo navegante pode assistir à integra da entrevista ao final deste post, mas o Conversa Afiada oferece a transcrição não-literal das principais respostas de Janio:
AS MANIFESTAÇÕES DE 26/V:
- é fundamental reconhecer que não foi o fracasso que muita gente esperava
- não foi um êxito espetacular, mas não foi um fracasso
- Aqui do Rio e de São Paulo, houve presença suficiente para se dizer que foi uma manifestação, sim, em favor da política do Bolsonaro, contra o Congresso, contra o Supremo, contra a Democracia. E em segundo lugar, o número de pessoas presentes, do meu ponto de vista, é muito pouco significativo. O que importa ver nessa manifestação é que ela foi convocada pelo Governo, que é um caso raro
- isto aconteceu entre nós no Governo Collor: quando ele se viu em situação extremamente difícil, a ideia que lhe ocorreu foi fazer uma convocação ao povo, para se manifestar em favor dele. Deu-se mal, porque os adversários dele estavam cansados já da presença dele, embora mal chegasse na metade do mandato; convocaram também a sua passeata e esta, sim, foi um gigantesco sucesso. Até hoje ela elege deputados e senadores da legislatura anterior, como saldo daquelas manifestações
- por que o Collor fez aquela convocação? Porque é clássico da Direita fazer esse tipo de convocação. Foi com manifestações desse tipo que a Alemanha entrou no pior período da sua História. Foi com manifestações desse tipo que a Itália entrou no pior momento da sua História. O mesmo aconteceu com a Hungria, aconteceu com muitos, muitos países, Portugal também
- é clássico que esta seja uma forma de início popular contra instituições democráticas e é esse serviço prestado por essa manifestação e por aqueles que lá estiveram ao projeto Bolsonaro ,que é público, é notório e não é um projeto de natureza democrática
- o Brasil está totalmente fragilizado em todos os sentidos. A pobreza do tempo do Lacerda para cá, e do tempo de qualquer outro movimento de Direita, a pobreza cresceu gigantescamente
- a cidade do Rio de Janeiro tem mais de mil núcleos favelados
- não há economia que sustente o Brasil se não mudarmos todo esse projeto que tem vigorado até aqui e trazer distribuição de renda, distribuição de terra, distribuição de oportunidades e distribuição de ensino, de Educação. O projeto do Bolsonaro não é esse, o projeto da direita, bolsonarista ou não, não é esse, nunca foi esse
A ENTREVISTA DE PAULO GUEDES
- bom, ele realmente não está nem ai, basta ver o tipo de política econômica que ele está propondo
- até agora ninguém começou a administrar nada nesses 5 meses de Governo Bolsonaro
- e o projeto dele de Previdência, por exemplo, tal qual ele mandou, não passa mesmo no Congresso. Como ele mandou, não passa de jeito nenhum. Vai ser bastante alterado em pontos que ele considera indispensáveis. E se ele não aceitar isso, bye-bye!
- acho uma boa ideia que ele saia do País, se ele quiser. Vá instalar a sua barraca em outro lugar
O QUE RESTA À OPOSIÇÃO?
- oposição, no sentido de uma organização mental, nós não temos. Temos pessoas que não concordam com o Governo, mas não há organicidade
- não há um movimento de ideias comuns contra o Governo
- ainda estamos pagando o preço do peleguismo que não permitiu a construção de movimentos trabalhistas e sindicalistas no Brasil
- as classes médias nunca foram organizadas, também, porque nunca precisaram
E O LULA? VAI APODRECER NA CADEIA?
- não tenho a menor ideia
- Lula não acreditou no que a gente percebia que ia acontecer com ele. Ele achou que iam deixar que ele se candidatasse e fosse eleito. Ele sequer percebeu que aquilo tudo foi montado exatamente para que não acontecesse o que ele estava imaginando
- provavelmente, nem nasceu dentro do Brasil
- o extremismo de Direita buscou organizar-se internacionalmente e com muita atenção sobre o Brasil que nascia com o Governo Lula
- a tendência era de que o sucesso do Governo Lula inspirasse as vizinhanças americanas. Isso teria um imenso significado para os EUA
E A POLÍTICA EXTERNA BOLSONÁRIA?
- não temos! Voltamos à política externa dos EUA!
- há, porém, uma certa preocupação de não tornar as coisas tão extremadas como Bolsonaro começou a fazer - contra China, Índia etc. -, então há um certo movimento corretivo
- por exemplo, Mourão foi à China
- no restante, o que se tem é uma política muito semelhante e inspirada na política do Trump, que é uma maluquice completa. "Estar procurando mais uma guerra pra fazer"
A RELAÇÃO MAIA E BOLSONARO
- da parte do Bolsonaro, é o jogo clássico que ele faz com o Congresso e os partidos em geral: morde, xinga, dá pontapé e depois assopra; da parte do Maia: é um político curioso. Ele teria tudo para se distinguir muito, até pelo caminho que o pai abriu para ele. Maia não conhece reta, ele é sinuoso. Ele hoje está contra o Bolsonaro e amanhã estará com o Bolsonaro. Você nunca sabe quem será o Rodrigo Maia de amanhã. Se ele se tornar mais coerente, mais retilíneo em suas ideias, ele será um político importante
E O FUTURO?
- para ser franco, só tenho a respeito uma certeza: isso não acabará bem. Não há uma boa saída para isso. Como será essa saída, eu francamente não sei. Não prevejo nada. Sei que há uma, duas, três, quatro hipóteses, mas não sei para onde tendemos.
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Assista à íntegra da entrevista:
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