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Jean Wyllys, exclusivo: Bolsonaro reage como um ditador desesperado!

Não são meras coincidências...
publicado 30/10/2019
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(Reprodução/Facebook)

O ex-deputado federal pelo PSOL Jean Wyllys avalia que é evidente "a relação da família Bolsonaro com os assassinos" de Marielle Franco, embora não seja possível apontar categoricamente a ligação envolvendo o presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista exclusiva ao Conversa Afiada, Jean afirma, ainda, que o Supremo Tribunal Federal (STF) não pode ignorar as escabrosas revelações que vieram à tona a partir do depoimento de um porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro.

Ronnie Lessa, principal suspeito pelos assassinatos de Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, se encontrou com outro suspeito, Élcio de Queiroz, no dia do crime, 14 de março de 2018, no condomínio. Segundo um porteiro do local, Élcio disse na portaria que iria à casa de Jair Bolsonaro.

Às 17h10 daquele dia, Élcio informou que iria à casa 58 - em nome de Bolsonaro. No entanto, segundo o porteiro, o suspeito se dirigiu à casa 66, onde mora Lessa.

Então, o porteiro ligou novamente para a casa 58. A pessoa que atendeu à ligação disse que sabia para onde Élcio estava se dirigindo. Em depoimento, o porteiro disse que, nas duas vezes que ligou para a casa 58, foi atendido por alguém que ele pensou ser Jair Bolsonaro.

Leia abaixo a íntegra da entrevista que o Conversa Afiada fez nesta quarta-feira 30/X com Jean Wyllys:

Conversa Afiada: Deputado, na terça-feira 29/X o senhor comentou o tal do "vídeo das hienas". O senhor chamou o vídeo de "ameaça grave" e o bolsonarismo de "culto medonho" e "ameaça à divergência política". Esse envolvimento cada vez mais próximo de pessoas do círculo do presidente Bolsonaro com o caso Marielle é uma prova disso, de que o Bolsonaro é um chefe de "culto medonho"?

Jean: Não acho que seja a prova de que ele seja o chefe de um "culto medonho". Eu posso dizer pra você que é a prova de que em torno dele se construiu um culto medonho. O bolsonarismo tem as características de um culto, de uma seita, na verdade. Uma seita. O bolsonarismo virou uma seita. E tem um líder, e esse líder, na compreensão dos membros da seita, nunca erra, esse líder está com a razão, e os membros estão dispostos a fazer qualquer coisa em nome desse líder - da divulgação de fake news até o assédio e intimidação.

O que acontece no caso do bolsonarismo é que há uma sobreposição entre os membros do culto que estão na internet, constituindo as milícias virtuais, que não necessitam necessariamente de um comando, mas cultuam o líder... Uma sobreposição dessas milícias digitais com as milícias reais, as organizações criminosas que controlam territórios, no caso no Rio de Janeiro.

Então, o que a gente vê no caso do bolsonarismo é uma relação entre essas duas zonas de organização: uma organização na internet, que mobiliza um ecossistema - principalmente de homens que cultuam a personalidade dele - e a relação desse ecossistema com os grupos e organizações criminosas que, como se sabe, existem no Rio de Janeiro e controlam territórios no Rio de Janeiro.

C Af: Não sei se o senhor assistiu à live do Bolsonaro no Facebook, logo após a matéria do Jornal Nacional, mas ele utilizou um tom muito mais agressivo que o normal. Acusou a imprensa, acusou até o governador Witzel... Na verdade, sempre que alguém cita o caso Marielle, ele de certa forma se transfigura. Fica mais raivoso que o normal. Isso seria, de certa forma, algum sinal de um envolvimento maior de pessoas próximas ao presidente no caso Marielle?

Jean: 
Eu acho que ninguém pode afirmar categoricamente qual é a relação de Bolsonaro com o assassinato de Marielle. Mas as pessoas podem afirmar categoricamente que há relação da família Bolsonaro com os assassinos. Isso é fato! Não são meras coincidências que o assassino morasse no mesmo condomínio, que ali fossem encontrados 117 fuzis... Que hoje a gente sabe que o motorista foi pegar o executor lá e usou o nome de Bolsonaro... Ou seja, as relações são evidentes. Há uma evidente relação. E isso, por si só, já é muito grave.

O assassinato de uma vereadora, o assassinato brutal, numa emboscada, em que o nome do presidente da República é envolvido, sabendo-se que, antes, os filhos do presidente renderam homenagens a membros dessas organizações criminosas no Parlamento... Isso, por si só, já é muito grave. Independente de qual seja a relação que se descubra, qual seja a relação de Bolsonaro com essas organizações criminosas, ou com os assassinos de Marielle Franco... Independentemente da relação que venhamos a saber que ele tenha, a simples menção ao envolvimento já é muito grave, não? É o presidente da República que está envolvido, foi citado em uma investigação acerca do assassinato de uma vereadora!

E isso num ano em que houve uma intervenção militar no Rio de Janeiro, que é uma cidade - um estado, na verdade - incrustado por organizações criminosas. Então, é isso o que a gente pode dizer.

E é óbvio que, pra quem assistiu àquela live, ele estava visivelmente transtornado. E ele faz uma ameaça, naquela live, seríssima: ameaça não renovar a concessão da Globo. E a Globo, simplesmente, fez uma matéria. A Globo não fez uma acusação contra ele - a Globo fez uma matéria! Divulgou dados de uma investigação, e essa investigação aponta que alguém usou o nome dele pra chegar no condomínio - quer dizer, pra chegar à casa do assassino, o nome dele foi utilizado. E alguém na casa liberou a entrada do motorista.

Quer dizer, não teve acusação explícita, mas ele já tomou como acusação, ele já citou o filho dele - mesmo que o depoimento do porteiro não tenha citado o filho, ele mesmo cita. Ele estava transtornado e fez uma ameaça contra a liberdade de imprensa.

Se você olhar as capas das revistas ao longo dos mandatos do Lula, se você olhar a quantidade de tempo que o Jornal Nacional dedicou às críticas ao PT, muitas vezes injustas, e a maneira como o Lula, democraticamente, sempre reagiu a essas críticas - se a gente comparar isso com a reação do Bolsonaro, a gente vê que o Bolsonaro teve a reação de um ditador. De um ditador desesperado!

C Af: Com a citação do nome de Bolsonaro, agora, se torna obrigatório que o STF analise o caso Marielle. Na sua opinião, isso pode de alguma forma mudar os rumos da investigação?

Jean:
 É difícil fazer futurologia. Mas o Supremo Tribunal Federal não pode ignorar esse envolvimento mais direto da família Bolsonaro com o assassinato de Marielle...

Já havia coincidências - para ser aqui, nesse momento, condescendente e responsável... Já havia muita coincidência: o assassino ser vizinho do presidente, morar num condomínio de luxo quando, na verdade, seu salário não lhe permitia morar num condomínio de luxo. Ele estar com 117 fuzis... O fato de a família Bolsonaro ter plantado o laranjal - ou seja, ter contratado funcionários fantasmas ligados à milícia... O filho de Bolsonaro, Flávio, ter rendido homenagens a milicianos na Assembleia Legislativa... O fato de Flávio Bolsonaro ter, a princípio, lamentado a morte de Marielle no Twitter e depois ter apagado esse tweet...

Quer dizer, há muita coincidência! E agora, mais essa, que o STF não pode ignorar! E o Supremo não pode ignorar sobretudo porque essa denúncia vem depois do filho de o presidente ter um vídeo que, a princípio, as pessoas podem tomar como engraçado, como jocoso, como uma espécie de ridículo político, mas é seriíssimo. Quer dizer, aquele vídeo do leão sendo atacado por hienas, e as hienas sendo apontadas como todas as instituições democráticas - incluindo aí a ONU... Quer dizer, é muito sério! Aquele vídeo tem uma função de mobilizar aquele ecossistema daquela seita em torno do Bolsonaro, de pessoas que são capazes de fazer qualquer coisa.

Então, o Supremo não pode ignorar isso. E acho que essas últimos acontecimentos confirmam uma tendência da atuação pública de Bolsonaro. Uma tendência que confirma a maneira como Bolsonaro sempre atuou publicamente e que, na eleição de 2018, foi relativamente negada, se "passou pano" pra atuação de Bolsonaro em 2018, quando se sabia que era assim que ele agia: que a atuação política dele era uma atuação política ligada às milícias, uma atuação política violenta, que assediava os colegas, que difamava os colegas - sendo eu, digamos assim, a vítima preferencial desse sujeito.

C Af: Uma última pergunta: nós estamos próximos de completar 600 dias da morte de Marielle Franco. Na sua opinião, o caso está mais próximo de uma solução? Estamos mais próximos à resposta sobre quem mandou matar Marielle?

Jean: 
É difícil responder. O que a gente pode dizer é que essa nova denúncia joga mais uma luz sobre o caso. Quando eu era deputado, presidi a Comissão Externa que acompanhou as investigações acerca do assassinato de Marielle e Anderson. Havia uma dificuldade de transparência das instituições envolvidas nas investigações. Nós precisamos pressionar bastante - não só nós, mas a Anistia Internacional, a justiça global... Chegamos a fazer reuniões com esses organismos internacionais para poder impôr uma transparência, para exigir uma transparência dessas instituições.

O que a gente quer... Eu acho que essa denúncia da Globo joga mais uma luz sobre o caso. A gente quer saber quem mandar mandou matar e por quê! E, agora, mais que nunca: quem estava na casa?

Quem estava na casa do condomínio? E quem abriu a porta pro porteiro? Isso tem que ser elucidado. A pergunta tem que permanecer porque elucidar o crime de Marielle é a chave pra elucidação de uma série de outras questões que envolvem a deterioração da Democracia no Brasil.

O assassinato de Marielle em 2018 está ligado a uma deterioração da democracia, que começa em 2016, com a articulação do Golpe contra Dilma Rousseff. Esses eventos não podem ser isolados, eles estão relacionados, têm a ver com a escalada da extrema-direita no Brasil, o empoderamento de grupos de extrema-direita, que não têm pudor em utilizar a mentira em larga escala, de fazer divulgação em massa de mentiras, de destruir reputações, fazer assédio e ameaçar pessoas para chegar ao poder. 

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