Lindbergh: Dilma perdeu porque quis
Nesta sexta-feira (26), o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) conversou, por telefone, com Paulo Henrique Amorim sobre o acordo secreto que o Governo fez com o senador Renan Calheiros para entregar o pré-sal à Chevron.
Lindbergh estava onde ocorrerá Convenção do PT no Rio de Janeiro, no próximo sábado (26).
PHA: Senador, dava para ganhar a questão do pré-sal no Senado?
Lindbergh: Nós iriamos ganhar aquela votação se o Governo não mudasse de posição. No dia anterior (na terça-feira, 23), teve uma votação para a retirada da urgência do projeto e nós perdemos por dois votos. Foi 33 a 31. Daí, eu liguei para o Palácio [do Planalto] e disse que se eles entrassem do nosso lado nós ganharíamos a votação.
Na quarta, eu fui ao Palácio, de manhã, tive uma reunião com o Berzoini e ligamos para vários senadores que toparam votar conosco. O fato é que fomos surpreendidos pelo anuncio do Romero Jucá que tinha fechado o acordo com o Governo. E aquilo revoltou a nossa base, na hora.
Eu tenho nomes de senadores que iam votar conosco e mudaram de posição, entre eles Jader Barbalho (PMDB-PA). O filho dele é ministro [Secretaria de Portos, Helder Barbalho]. Com o acordo, ele saiu do plenário. Raimundo Lira (PMDB-PR) e José Maranhão (PMD-PR), o Helio José (PMB-DF), o Vicentinho Alves (PR-TO), Wellington Fagundes (PR-MT), Ivo Cassol (PP-RO), Benedito Lira (PP-AL). Teve senador se comprometeu conosco e com o acordo não votou conosco.
O fato é o seguinte, nas nossas contas, íamos ganhar. Portanto, a tese de que foi feito um acordo porque o Governo ia perder é uma tese furada. Tem gente dizendo que foi uma política de redução de perdas. Nós só perdemos porque o Governo mudou de lado.
PHA: Por que o Governo mudou de lado?
Lindbergh: Eu só consigo entender que o Renan [Calheiros - PMDB] viu que ia perder a votação e deve ter feito pressão em Dilma. Mas a Dilma não podia ter recuado ou mudado assim, sem falar com a gente. Nós estamos nessa briga há muito tempo, e quando a gente vê, a notícia (do acordo) vem pela boca do Romero Jucá (PMDB-RO).
PHA: Vocês só souberam quando eu e os espectadores da TV Senado souberam: quando o Jucá anunciou no acordo?
Lindbergh: Exatamente. Não avisaram a gente. Se tivessem nos ligado eu teria dito que ganharíamos. Os senadores iam votar com a gente.
PHA: E só não votaram porque o Governo fez o acordo ?
Lindbergh: Porque o Governo mudou de posição. Ou seja, nós perdemos pela mudança de posição do Governo.
Eu tenho muito medo de a Câmara ampliar esse projeto.
PHA: O deputado Mendonça Neto já disse que vai entrar com um projeto para acabar com a partilha.
Lindbergh: Eles podem pegar esse projeto e colocar um ponto a mais acabando com a partilha. O PMDB do Rio, sob a liderança do Leonardo Picciani, defende a tese de que o Rio ganharia mais royalties com o regime de concessão.
PHA: A Presidenta não pode vetar?
Lindbergh: Claro e vamos começar uma campanha pelo veto. Ela cometeu um grande erro, mas pode se redimir.
PHA: E esse veto para ser derrubado precisa de 2/3 da Câmara e do Senado?
Lindbergh: O veto eles não conseguem derrubar.
PHA: Será que o Renan conseguiu persuadir a Presidenta com o argumento de que ele barraria o impeachment no Senado ?
Lindbergh: Eu não sei, mas, com certeza, ele fez pressão na Presidenta. Foi uma mudança muito brusca.
PHA: E sem o Renan, o [José] Serra (PSDB-SP) progrediria?
Lindbergh: Esse projeto é do Serra, mas o Renan abraçou ele com muita força. Eu fico preocupado, porque depois desse projeto eles vão querer colocar na pauta a independência do Banco Central, o PL 555, que transforma todas as estatais em sociedades anônimas. O Renan quer impor uma pauta neoliberal.
PHA: O senhor está na Convenção do PT ? A Presidenta vai?
Lindbergh: Estou. Estão dizendo que ela não vem. Agora, o PT está preparando aqui um Plano Nacional de Emergência que é um documento muito bom, que vai no sentido de aumentar o gasto social, investimento e reduzir os juros. É retomar a política do Lula para enfrentar a crise de 2008.
Em tempo: o inciso 4o do artigo 66 da Constituição diz que e não 2/3.
Porém, mesmo assim, segundo o senador, é e tem sido muito difícil o Congresso derrubar um veto presidencial.
Por isso, num telefonema posterior, que, se a Câmara vier a concordar com o Senado e a Dilma vetar, o veto prevalecerá.
PHA