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Lindbergh: que PT é esse?

ES, Rio... Temer não governa e pode cair
publicado 09/02/2017
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Lindbergh Lula Gleisi.jpg

Lula e Gleisi são a oxigenação do partido (Reprodução)

PHA: Eu converso com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que era, há até pouco tempo, líder da oposição no Senado. Por que o senhor foi destituído da liderança da oposição no Senado?

Lindbergh Farias: Sinceramente, não quero ficar trazendo para o campo pessoal, mas eu acho que foi um gesto truculento de uma parte da bancada do PT e uma certa retaliação à nossa posição em relação às mesas do Senado. Esse pessoal inverteu a lógica. Eles dizem que nós somos culpados pelas críticas da militância a eles! Mas eles tiveram todos os recados da base do PT, dessa militância que foi às ruas contra o Golpe, de que a nossa base não quer apoio a Golpista. Então, eles inverteram. E eu acho que como retaliação acabaram me afastando. Na verdade, o argumento deles foi o seguinte: que não poderia ser Gleisi a líder do PT e eu o líder da oposição, por seguirmos o mesmo lado. A Gleisi está tendo uma atuação fantástica, mas a Gleisi é de uma corrente e eu sou ligado a outra. Na verdade, esse argumento não se sustenta. Foi truculento, houve falta de generosidade, porque eu estava líder há seis meses - estava no meio do meu mandato. Humberto Costa já é líder por 4 anos seguidos. E a gente fez um trabalho muito combativo.

PHA: Senador, qual é a diferença entre o senhor e a senadora Gleisi Hoffmann, por exemplo, na posição de líder do PT? Esses que não o queriam na liderança da oposição vão sofrer nas mãos da senadora Gleisi da mesma forma que sofreriam se o senhor estivesse lá...

Lindbergh Farias: Na verdade, o que fizeram foi o seguinte: ou a Gleisi, ou eu. É claro que eu não iria prejudicar a Gleisi, de jeito nenhum. Ela vem tendo um papel muito duro, muito firme neste momento. E eu quero deixar isso para lá e entrar de cabeça no debate sobre o PT. Porque por trás de tudo isso há um debate sobre o tipo de partido que nós queremos para esse País. Um partido com mais vitalidade. Eu me preocupo muito com a burocratização do PT, com o envelhecimento do PT. Nós temos que ter um partido com vitalidade na oposição e preparar a campanha do Lula, com outro programa, em que entrem várias discussões: sobre política de alianças, sobre programa, porque eu acho que nós fizemos um grande Governo com o Presidente Lula e com a Presidenta Dilma (houve um grande processo de inclusão social), mas, sinceramente, eu acho que nós subestimamos a luta de classes neste País. Olhando para trás, com o nosso Governo não tendo feito nada contra o monopólio da Globo, em relação à democratização dos meios de comunicação... ou seja, nós apostamos muito numa política de conciliação que eu acho que tem que estar superada para o próximo período. Temos que entrar no debate da taxação das grandes fortunas, de todo o sistema da dívida. Então, eu vou lutar muito nesse período de Congresso do partido para que o PT se reencontre com os movimentos sociais, se reconecte com a juventude e não seja esse PT cansado, envelhecido, burocratizado.

PHA: O senhor está vindo a São Paulo para a missa de sétimo dia da Dona Marisa. O senhor vai se encontrar com o Presidente Lula, certamente. Qual é a inclinação do Presidente Lula, na sua avaliação? Ele está com esses carcomidos do PT burocrático ou com o PT que ouve a voz das ruas, as bases, como o senhor considera que ouve?

Lindbergh Farias: Lula tem falado muito que o PT precisa se reoxigenar, se reconectar com a juventude e os movimentos sociais. Acho que Lula tem essa preocupação. Lula, inclusive, está com a cabeça muito boa sobre Economia, sobre o que fazer para o País sair da crise. Por trás desse debate na bancada do PT, tem duas visões políticas diferentes. Eu, quando falo do grau de burocratização... tem parlamentar que, quando fica muito tempo no Parlamento, acha que o Parlamento é tudo, que o mundo se resume ao Parlamento. Neste ano de 2017, as nossas chances vão depender muito das ruas, da capacidade nossa de colocar gente nas ruas contra a Reforma da Previdência, contra esse Governo do Temer, contra a retirada de direitos. O PT não pode ser um partido só de parlamentares, tem que se reaproximar da juventude e dos movimentos sociais. E eu acho, sinceramente, que o Lula percebe isso. Lula, ao contrário de uma parte do PT que está muito distante da realidade, consegue sentir o que está acontecendo no País, tem conexão com a vida real das pessoas.

PHA: O senhor está em São Paulo. Enquanto isso, lá na sua base, o Rio de Janeiro, há um conflito que lembra conflitos de guerra civil, em frente à Assembleia Legislativa. O povo na rua protestando contra a privatização da Cedae, que é uma pré-condição do Ministro Meirelles para salvar as finanças do Governo do Rio (se é que vai salvar...). O que o senhor acha dessa questão da Cedae no Rio de Janeiro?

Lindbergh: É um escândalo o que eles estão querendo fazer! Porque o Governo está aproveitando para impor um plano de austeridade e pedindo privatização de tudo. A Cedae é uma empresa superavitária. A gente sabe que se privatizar a Cedae, vai aumentar o preço da água no estado do Rio de Janeiro. Acho que o que está faltando é o Governo Federal assumir a sua parcela de responsabilidade. Num momento como esse, em que os estados todos estão em uma crise fiscal, o Governo Federal tem que aumentar investimentos! Se nós não recuperarmos a capacidade de crescimento da Economia, não vai ter saída para nenhum estado brasileiro. Lá no Rio você pode ver: depois de isenções bilionárias para grandes empresas, eles estão colocando a conta toda em cima dos trabalhadores. Aumentar a contribuição previdenciária dos servidores... Eu estou muito preocupado, porque parece que falta comando no País. Precisaria ter um Presidente da República com legitimidade que dissesse: "Mais importante que o ajuste fiscal é colocar a Economia para crescer!". Porque o Rio de Janeiro não sai dessa situação se a Economia do País como um todo não voltar a crescer. Se não recuperar a cadeia de óleo e de gás - a Indústria Naval, que tem um peso enorme no Rio de Janeiro, está à míngua. A Petrobras decidiu que não compra mais nada, cortou investimentos...

PHA: Comperj não tem uma empresa brasileira qualificada para participar da licitação?

Lindbergh Farias: Aquilo é um escândalo! Dessas empresas estrangeiras que foram anunciadas, a maior parte respondeu a processos de corrupção no mundo inteiro! Aqui há uma destruição das empresas nacionais! Essa semana foi vergonhosa: o Banco Central nem está mais comprando da Casa Moeda. Até isso! Nós estamos importando moeda, esvaziando completamente a Casa da Moeda, estão destruindo a Indústria Naval... É impressionante o que em tão pouco tempo esse Governo do Temer está fazendo em relação à questão nacional.

PHA: O senhor teme uma sucessão de crises de segurança e de insegurança nas grandes cidades brasileiras, como se vê agora no Rio e também em Vitória?

Lindbergh Farias: Acho que estamos caminhando para um 2017 de grande convulsão social, porque é crise econômica, crise política, e o Governo só anuncia planos de austeridade - aperto, aperto, aperto. Tem gente prevendo desemprego de 14% em 2017. Tem uma ausência de comando, porque por trás desse Governo Temer não há Governo. Ninguém está preocupado em oferecer uma saída para a crise. Eles estão preocupados em se salvar. Perderam a compostura - nomeação de Moreira Franco, depois Alexandre de Moraes... Eles perderam completamente a compostura. Não tem Governo. Aquele é um bando procurando se salvar, não tem estratégia para salvar o País. Eu tenho insistido muito no Lula. Acho que temos que antecipar o lançamento da candidatura dele, com um programa para a gente recuperar a Economia e proteger os empregos.

PHA: Quando o Lula deveria lançar a candidatura?

Lindbergh Farias: Nós estamos conversando com ele para ver se ele faz isso até abril. É claro que agora, com a morte da Dona Marisa, vai ter um período em que ele está muito emocionado, um período muito difícil para ele. Mas eu acho que, em abril, se nós pudermos lançar a candidatura de Lula... Porque não é certo que esse Governo vá até 2018. Eu sei que o PSDB quer isso, as elites querem isso, só que esse Governo pode se desmilinguir. Com uma delação de Eduardo Cunha, uma delação de Funaro, pode se desmoralizar de forma tal que esse Governo se desconstitua. E essa crise nos estados - Espírito Santo, Rio de Janeiro... Na verdade, tem 20 estados em situação muito difícil. E a gente tem que aguentar esse Governo falando em corte de gastos, corte de gastos, corte de gastos. O termo "convulsão social" se usa num cenário em que os de cima não governam, mas você não tem uma saída muito clara. Porque você passeatas de gente de esquerda, você vê passeata à la Bolsonaro invadindo Assembleia Legislativa do Rio, também. Tem de tudo. É um quadro muito difícil. Eu, sinceramente, estou muito preocupado com esse ano de 2017, porque eu não vejo lideranças propondo uma saída para a crise. Eu acho que a única liderança com peso e com envergadura para propor uma alternativa ainda é o Presidente Lula. Por isso, eu acho que ele deveria antecipar o lançamento da candidatura dele.

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