Lula ou Ciro: quem é o caudilho?
O Conversa Afiada publica artigo de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:
Até egressos da juventude do PDS, ex-Arena, por onde Ciro Gomes trafegou no início da sua vida política, sabem que uma chapa Haddad/Ciro seria imbatível já no primeiro turno contra a reação golpista. Nem precisaria de pesquisas para isso.
Bastaria um pouco de espírito público a favor da soberania nacional, da dignidade do povo, do resgate de ideais democráticos pisoteados pelo capo Temer e sua máfia.
Isso é claro como água límpida. Que é o inverso do que acontece na política de um país educado no atraso, submetido ao primeiro endinheirado que aparece, ao primeiro gringo (genuíno ou tropicalizado) tropeçando em algo parecido com um idioma estrangeiro.
O Brasil está numa encruzilhada de que, num certo sentido, nem sequer tem culpa isoladamente. Vivemos até hoje os efeitos deletérios da crise de 2008, cujo preço se espalha mundo afora. O capitalismo baseado na especulação, na incapacidade de promover o bem-estar da humanidade, voltado essencialmente ao lucro fácil e à espoliação sem trabalho produtivo –esse sistema vem dando as cartas há décadas e disseminando a destruição.
Subjuga governos e povos inteiros, humilha o povo pobre que ao abrir sua despensa nada encontra senão grãos de farinha. As estatísticas sobre a riqueza acumulada por uma dezena de bilionários comparadas com a miséria que grassa pelo mundo economizam maiores comentários.
Há algumas maneiras de encarar este caminho traçado rumo à barbárie. Pode-se render a ele para viver das sobras da “destruição destrutiva” –numa homenagem irônica aos schumpeterianos tão caros aos economistas de aluguel. É a especialidade secular da tal elite brasileira.
Mas pode-se também resistir, em defesa da civilização, da dignidade de quem trabalha, da honra dos que suam, da soberania dos povos sobre seu próprio destino.
Parecem mundos distantes, mas é isto que está em jogo daqui a pouco, em outubro. Gente que se mete em política tem a obrigação de levar isto em conta. Principalmente quando se apresentam como lideranças capazes de travar a liquidação do Brasil.
Vamos combinar: Ciro Gomes é um vodu político. Há algo curioso em sua biografia: nunca parou em nenhum partido. E olha que andou por muitos. No mínimo, isto indica que sua capacidade agregadora é próxima a zero.
Mais curioso ainda: Ciro acusa Lula etc de caudilhos. Só que Lula tem um partido, aliás o maior do país, disposto a refletir sobre suas orientações. Já Ciro prega como um Messias: “deixem o Brasil comigo que eu ponho a casa em ordem.” Quem é o caudilho nesta história?
Tudo indica que, se houver eleições, Haddad (Lula) e Bolsonaro se enfrentarão nas urnas. Ciro tem seu papel. A essa altura, perturba a todos que enxergam o tamanho do que está em jogo que Ciro comece a ser apontado como arrimo da direita mais reacionária. E que o próprio candidato dê suas piscadinhas para essa possibilidade, como já fez ao suplicar apoio ao direitão.
Mas cada um é cada um. Sempre é tempo de mudar.