Magno da Malta não saiu da geladeira!
No dia da vitória, Magno da Malta (D) foi protagonista. Hoje é apenas um elefante na sala (Reprodução/TV Globo)
Por Amanda Audi, no Intercept Brasil:
Magno Malta não falava com ninguém desde a semana passada, quando se convenceu de que não vai mesmo fazer parte do governo de Jair Bolsonaro.
Até então, ele era o braço direito do presidente eleito. Participou da campanha mais ativamente que qualquer outro aliado. Articulou o tão desejado apoio do pastor Silas Malafaia e da bancada evangélica, movimento definitivo para derrotar Fernando Haddad. Conduziu uma oração em rede nacional logo após Bolsonaro vencer a eleição. Era chamado por ele de “vice dos sonhos”.
Tudo levava a crer que Malta teria um lugar de destaque na equipe que comandará o país. De uma hora para outra, porém, as coisas mudaram. E ele sofreu as duas maiores derrotas de seus 30 anos de vida pública.
Primeiro, o capixaba não conseguiu se reeleger como senador. Ele diz que abdicou de fazer campanha para si mesmo para se dedicar à de Bolsonaro. Mal pisou no Espírito Sаnto nos dias que antecederam o pleito.
Segundo, foi escanteado pelo aliado. Antes, o pastor dizia: “vou ser ministro, sim“. As pastas foram acabando e ele sobrou. O general Mourão, vice de Bolsonaro, chegou a se referir a Malta como “o elefante no meio da sala“, pois ninguém sabia o que fazer com ele.
Alvo de escândalos, como supostamente ter mandado torturar um homem inocente para se promover (o ex-cobrador Luiz Alves de Lima relatou o caso ao Intercept) ou ter gasto quase meio milhão de reais de dinheiro público em dois postos de gasolina no Espírito Sаnto, além de crítico de integrantes da equipe, como do próprio Mourão, o senador acabou sendo visto como um homem tóxico.
Chegou ao ponto de Bolsonaro cogitar chamar Damares Alves, assessora parlamentar de Malta, para o Ministério dos Direitos Humanos – justamente a pasta com que sonhava. A punhalada foi forte.
Visivelmente abatido, Magno se isolou em seu sítio em Viana, região metropolitana de Vitória, desde a última quinta-feira. Estava na companhia da família e de poucos assessores. O celular, fora de área. “Ele precisava de um tempo”, comentou o pastor Valmir Lima, irmão de criação do senador. Frases parecidas foram repetidas a mim por amigos, funcionários e conhecidos.
Durante três dias, percorri Cachoeiro do Itapemirim, Vitória e Vila Velha atrás de Malta. Só consegui encontrá-lo no voo de volta a Brasília. Sentei ao seu lado. Ele vestia uma camiseta de sua campanha contra a pedofilia (tema de CPI que comandaou no Senado), sapatênis branco e uma grossa corrente de ouro. Reparei que ninguém o cumprimentou.
Falando baixo e com postura encurvada, sua figura em nada lembrava a imponência de situações que ele domina com maestria: cultos, shows, tribunas e campanhas. No avião, pediu um café com três saquinhos de adoçante. Sua voz saiu tão fraca que o comissário não escutou.
Na conversa, de cerca de duas horas, ele disse várias vezes que ainda torce por Bolsonaro e o considera “um amigo”. Mas também não escondeu a amargura: “Você vê muita gente que falava mal dele, não pedia voto, e agora tá aí, se aproximando”. Ao ser questionado se sua atual situação se deve a Mourão, desconversa, e diz que é preciso tempo. Mourão seria um ingrato? “Ingrato eu não diria.” Se arrepende de ter deixado de lado a própria campanha para se ver hoje fora do governo? “Não lutei para ter um cargo no governo”, mas “pelo Brasil”.
Seus atos, no entanto, são menos generosos que as palavras. A desilusão foi tão grande que ele decidiu não disputar mais eleições. Quer se dedicar ao projeto de recuperação de viciados em drogas que mantém em Cachoeiro e ver os netos crescerem. “O meu papel foi feito. Tudo passa nessa vida”, comentou, entre uma turbulência e outra.
Intercept – No ano que vem, o que você vai fazer? Se dedicar ao seu projeto [de recuperação de viciados em drogas, mantido por Malta em Cachoeiro do Itapemerim] ?
Magno Malta – Sim, e também vou seguir minha agenda de músico [ele tem 27 discos de música gospel]. Já cumpri o meu legado para a sociedade brasileira.
Você tá saindo da vida pública?
Ah, eu tô. Foram 30 anos. Eu tenho um netinho de dois anos que fala mais do que a boca, eu quero ver crescer. Tem uma outra que está vindo, eu quero ver nascer e crescer também. Foram seis mandatos, né.
30 anos…
Servir a Deus e respeitar o meu país. Eu ajudei a libertar o meu país desse viés ideológico. Criamos um projeto de nação. Passei os últimos seis anos e meio com Bolsonaro. Realizei meu sonho de libertar o Brasil desse viés ideológico. Quando Bolsonaro foi eleito, nós fomos orar, pedindo força para esse mandato. Pedi que Deus guarde ele dos homens maus, que ele não tem compromisso nenhum com crime. Eu viajei todo esse país, conversei com pessoas, multidões. Mal voltei pra casa. Rodei todo o nordeste. O meu papel foi feito. Tudo passa na vida.
Você não vai concorrer mais então?
Não quero mais disputar eleição.
Mas e se vier algum cargo no governo?
Ele não tem obrigação nenhuma comigo. As pessoas não sabem da nossa amizade.
Você não ficou magoado?
Não. O viés ideológico foi quebrado, nós ajudamos o país a se livrar dos tentáculos. O Brasil voltou a amar o Brasil, as pessoas voltaram a se emocionar com o hino nacional.
Mas se ele oferecer algum cargo…
Ah… A posição dele não é fácil. Tem a cirurgia que ainda vai fazer.
Não acha possível ter algum convite ainda?
Não (enfático). Sem chance.
Ele deve indicar a sua assessora parlamentar, Damares [Alves, cotada para o Ministério dos Direitos Humanos]…
Damares é minha assessora há muitos anos.
Se ele chamar ela, vai ser um agrado pra você?
Não. Se ele chamar ela, vai ser um reconhecimento do trabalho dela.
Vocês são amigos ainda?
Sim. A autoridade é dele, ele é o presidente desse país. A amizade não vai acabar porque durante dois meses da eleição eu achava que ia ser ministro e eu não fui ministro.
(...)
Gostou desse conteúdo? Saiba mais sobre a importância de fortalecer a luta pela liberdade de expressão e apoie o Conversa Afiada! Clique aqui e conheça! |