Mello Franco: Bolsonaro adota a confusão como método
Até nisso ele imita o Trump, seu ídolo…
publicado
06/01/2019
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Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Conversa Afiada reproduz artigo de Bernardo Mello Franco ao Globo Overseas:
No quarto dia de mandato, Jair Bolsonaro deu uma amostra do seu potencial para produzir crises. O capitão surpreendeu a própria equipe ao anunciar que, “infelizmente”, havia assinado um decreto elevando o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Acrescentou que reduziria o Imposto de Renda para quem recebe mais. As notícias causaram alvoroço no meio político e no mercado financeiro.
O presidente foi desautorizado pelo secretário da Receita, que ocupa um cargo de segundo escalão no governo. “Deve ter sido alguma confusão. Ele não assinou nada”, esclareceu. O ministro da Economia, que não costuma poupar saliva, cancelou a agenda pública e tomou chá de sumiço. “Bolsonaro não foi desmentido nem pelo dono do Posto Ipiranga, foi pelo frentista mesmo”, ironizou a ex-senadora Marina Silva.
Mais tarde, o chefe da Casa Civil entrou no circuito da desinformação. O ministro reclamou da imprensa e tentou atribuir o tumulto a um “vazamento indevido”. Depois reconheceu que o problema havia sido criado por uma declaração pública do presidente. “Ele se equivocou”, admitiu.
Não foi a primeira bateção de cabeça do novo governo. No dia da posse, o mesmo Onyx Lorenzoni disse que a decisão sobre o reajuste do salário mínimo ficaria para depois. Foi atropelado na mesma noite, quando o valor foi publicado em edição extra do “Diário Oficial”.
Na manhã do dia 2, o ministro Gustavo Bebianno afirmou que Bolsonaro não se meteria na disputa pelo comando da Câmara. No começo da tarde, o partido do presidente anunciou um acordo para apoiar a reeleição de Rodrigo Maia.
A trapalhada do IOF é mais grave porque mostra que o capitão ainda não compreendeu seu novo papel. A fala de um presidente tem peso e produz efeitos imediatos. Seu autógrafo, mais ainda. Quem chega ao cargo mais alto da República não pode assinar decretos sem ler ou entender o que eles significam.
Bolsonaro é fã de Donald Trump, que também costuma atropelar auxiliares, tomar decisões por impulso e anunciá-las por tuítes. No livro “Medo” (Todavia), o jornalista Bob Woodward conta como o republicano adotou a confusão como método e mergulhou a Casa Branca no caos administrativo. O governo americano está paralisado há mais de duas semanas porque Trump quer forçar o Congresso a liberar US$ 5,6 bilhões para a construção de um muro na fronteira com o México.
O presidente foi desautorizado pelo secretário da Receita, que ocupa um cargo de segundo escalão no governo. “Deve ter sido alguma confusão. Ele não assinou nada”, esclareceu. O ministro da Economia, que não costuma poupar saliva, cancelou a agenda pública e tomou chá de sumiço. “Bolsonaro não foi desmentido nem pelo dono do Posto Ipiranga, foi pelo frentista mesmo”, ironizou a ex-senadora Marina Silva.
Mais tarde, o chefe da Casa Civil entrou no circuito da desinformação. O ministro reclamou da imprensa e tentou atribuir o tumulto a um “vazamento indevido”. Depois reconheceu que o problema havia sido criado por uma declaração pública do presidente. “Ele se equivocou”, admitiu.
Não foi a primeira bateção de cabeça do novo governo. No dia da posse, o mesmo Onyx Lorenzoni disse que a decisão sobre o reajuste do salário mínimo ficaria para depois. Foi atropelado na mesma noite, quando o valor foi publicado em edição extra do “Diário Oficial”.
Na manhã do dia 2, o ministro Gustavo Bebianno afirmou que Bolsonaro não se meteria na disputa pelo comando da Câmara. No começo da tarde, o partido do presidente anunciou um acordo para apoiar a reeleição de Rodrigo Maia.
A trapalhada do IOF é mais grave porque mostra que o capitão ainda não compreendeu seu novo papel. A fala de um presidente tem peso e produz efeitos imediatos. Seu autógrafo, mais ainda. Quem chega ao cargo mais alto da República não pode assinar decretos sem ler ou entender o que eles significam.
Bolsonaro é fã de Donald Trump, que também costuma atropelar auxiliares, tomar decisões por impulso e anunciá-las por tuítes. No livro “Medo” (Todavia), o jornalista Bob Woodward conta como o republicano adotou a confusão como método e mergulhou a Casa Branca no caos administrativo. O governo americano está paralisado há mais de duas semanas porque Trump quer forçar o Congresso a liberar US$ 5,6 bilhões para a construção de um muro na fronteira com o México.