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Militares vão tomar o apito do Bolsonaro?

Maria Cristina tem dúvidas: Bolsonaro sabe arbitrar?
publicado 20/12/2018
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O Conversa Afiada extrai do PiG cheiroso trecho de artigo - "A arbitragem, de Lula a Bolsonaro" - de Maria Cristina Fernandes, sempre certeira:

(...) ao se deparar com os primeiros furos na blindagem anticorrupção que o elegeu, antes mesmo da posse, Bolsonaro se revela uma liderança popular sem a mesma capacidade de arbitragem sobre interesses, mais do que antagônicos, fagocitários de seu entorno.

A arbitragem se fará mais necessária entre Tereza Cristina (Agricultura) e Ernesto Araújo (Itamaraty) do que entre a ministra e o titular do Meio Ambiente (Ricardo Salles). E, principalmente, entre os interesses de Paulo Guedes em tramitar suas reformas no Congresso e aqueles da lupa de Sergio Moro, por ora engavetada, sobre os malfeitos do bolsonarismo.

Mas é a convivência, num mesmo governo, de um epicentro de informações nas mãos de Moro, de um fortalecido aparato militar que detém estruturas como o Centro de Informações do Exército (Ciex), de um ministro da Economia que fez carreira na gestão de investimentos e de filhos comprometidos em destravá-los, que tem a capacidade de corroê-lo por dentro. (...)

(...) Mesmo que se limite à aprovação da agenda Paulo Guedes, o presidente eleito terá dificuldades de fazer seu governo descer a rampa de mãos limpas. Não é uma coincidência qualquer que a posse de Lula e Bolsonaro tenha o senador Renan Calheiros em desabalada campanha pela presidência de sua Casa.

Hugo Chávez e Fidel Castro foram as atrações internacionais da posse de Lula. Dezesseis anos depois, a de Bolsonaro é marcada pela ausência de representantes de Venezuela e Cuba e a presença do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Lula fez a posse mais popular da história, com 150 mil pessoas, vindas em caravanas do país inteiro, na Esplanada. E estreou na expectativa de que mobilizaria a sociedade para empurrar sua agenda. Depois teve que enfrentar um número ainda maior de pessoas que saíram às ruas para pedir sua prisão em grande parte porque o lulismo perdeu a arbitragem para o Judiciário.

Ainda que conte com audiência virtual, parece improvável que Bolsonaro repita a multidão de 2003. Mas a avidez com que avança sobre o Supremo, a começar pela revisão da terra indígena Raposa Serra do Sol, demonstra que o presidente eleito desconhece o apito final da toga. O alheamento parece convergir com o recolhimento pretendido pelo presidente da Corte, Dias Toffoli. A começar pelos filhos, "porta-vozes não oficiais do pai", na definição de Mourão à "Crusoé", não lhe falta motivo para desejá-lo. Sobram razões para a caserna ter a expectativa de herdar este apito. (...)