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No Dia do Nordestino, 8/X: o novo sempre vem!

O Nordeste constrói uma Ética dos Pobres!
publicado 08/10/2018
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A proposito da eleição de 8/X e especialmente da eleição no Nordeste e no Rio Grande do Norte, o Conversa Afiada tem o privilegio de publicar artigo do excelente escritor e ator Henrique Fontes, conhecido da TV Afiada.

“Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantado
Como uma nova invenção.
Vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação…”
Belchior

O dia 08 de Outubro de 2018 amanheceu como um rasgo no tempo das oligarquias brasileiras. Pelo menos no Rio Grande do Norte, onde habito há mais de 30 anos e onde me construo como artista, pela primeira vez em 70 anos tiramos do poder as oligarquias Alves, Maia, Rosado e Faria.

Este dia marca também o grito de #AquiNão, dado pela região Nordeste que, em sua grande maioria, não quis o fascismo como diretriz para o Brasil. E olha que ironia do destino, este dia 08 de outubro é o Dia do Nordestino.

A data inventada em São Paulo em 2009, em homenagem ao centenário do nascimento de Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, poeta popular, compositor e cantor cearense, talvez ganhe um contexto menos folclórico a partir de hoje. Creio que ela re-inaugura um desejo de Democracia a partir do que aqui ouso chamar de a Ética dos Pobres.

Não estou assumindo o discurso de nordestino vítima da seca e refém dos coronéis, mas não posso negar o número ainda assustador da pobreza de muitos e da riqueza de poucos no Nordeste brasileiro. Queria chamar atenção para esta ética de uma população que, por décadas, se sujeitou aos mandos do senhorzinho do engenho, da fazenda, da indústria, dos shopping centers ou dos bancos, mas que nunca dormiu com o travesseiro do conformismo.

A Ética dos Pobres se pauta no entendimento de que o pouco que tenho pode ser compartilhado e “uma hora teremos a nossa vez”. Um misto de fé na humanidade e no divino. Uma força que move aqueles que acordam antes do sol e trabalham além das próprias forças.

Nesta data de 08/10/2018 também quis a roda do destino, que nossa peça “A Invenção do Nordeste” do Grupo Carmin, estreie sua temporada no Teatro Sesi no centro do Rio de Janeiro. A peça dirigida por Quitéria Kelly, inspirada na obra “A Invenção do Nordeste e outras artes” do historiador Durval Muniz de Albuquerque jr. questiona esta construção inventada a partir de um regionalismo redutor que, por décadas, vêm ajudando as oligarquias a manobrar as massas e garantir seus currais eleitorais.

Este dia simbólico, onde vejo o vídeo de Natália Bonavides, uma jovem de 30 anos, eleita com 110 mil votos a mais jovem deputada federal da história do Rio Grande do Norte, cantando “Como nossos pais” de Belchior, me renova a esperança e um desejo de um novo país, não inventado nem copiado de modelos estadosunidenses ou fascistas. Um país que viva a democracia como “a ação que arranca continuamente dos governos oligárquicos o monopólio da vida pública e da riqueza a onipotência sobre a vida.” Como defende Jacques Rancière no seu livro “O ódio à democracia.”

Eu sei que há perigo na esquina e que alguns sinais até podem estar fechados para nós que somos jovens, mas quero continuar agarrado às palavras de Belchior e seguir acreditando que “é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem.

Henrique Fontes - Dramaturgo e ator de A Invenção do Nordeste, em cartas no Teatro Sesi Centro no Rio de Janeiro, dos dias 08/10 a 06/11/2018, Segundas e terças às 19h.