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NY Times desmente acusação de Trump contra Maduro

Hoje na Venezuela, ontem na Espanha, a mesma patranha
publicado 11/03/2019
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Do bolivarianíssimo New York Times:

Imagens contradizem afirmação americana de que Maduro incendiou comboio humanitário


A história parecia comprovar o autoritarismo da Venezuela: forças de segurança, sob ordens do presidente Nicolás Maduro, incendiaram um comboio de ajuda humanitária, ao mesmo tempo em que milhões de pessoas em seu país sofrem com fome e doenças.

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, escreveu que "o ditador em Caracas está dançando" e que seus comparsas "queimavam comida e remédios". O Departamento de Estado publicou um vídeo em que afirma que Maduro deu ordens para que os caminhões fossem queimados. E a oposição da Venezuela reproduziu as imagens dos caminhões em chamas, reproduzidas em dezenas de portais e canais de televisão por toda a América Latina como prova da crueldade de Maduro.

Mas há um problema: foi a oposição ao governo de Maduro, e não o Exército, quem aparentemente começou o incêndio, por acidente.

Novas imagens adquiridas pelo New York Times, assim como vídeos já divulgados - incluindo gravações previamente publicadas pelo governo da Colômbia, que joga a culpa em Maduro - permitiram que o incidente fosse reconstruído. Ao que parece, o incêndio teve início com um coquetel molotov jogado por um manifestante anti-Maduro.

Em um certo momento, uma bomba caseira feita com uma garrafa cheia de combustível é jogada contra os policiais venezuelanos, que bloqueavam uma ponte que liga a Venezula à Colômbia. Entretanto, o pano utilizado como pavio no coquetel molotov se separa da garrafa e vai em direção ao caminhão com ajuda humanitária. Trinta segundos depois, o caminhão está em chamas.



O mesmo manifestante anti-Maduro pode ser visto em um outro vídeo, 20 minutos mais cedo, atingindo outro caminhão com um coquetel molotov - mas sem dar início a um incêndio. (...)

Em 11 março de 2004, Madrid, capital da Espanha, foi alvo de ataques terroristas simultâneos contra o sistema de trens suburbanos, que deixaram 193 mortos. O governo direitista do primeiro-ministro José María Aznar, desde a primeira hora, sabia que o responsável era um grupo jihadista - mesmo assim, esforçou-se para apontar um outro culpado pelos ataques.

Hoje, 11/III/2019, o El País, em sua edição online em espanhol, publica uma entrevista com Juán Jesús Sánchez Manzano, chefe do esquadrão anti-bombas da polícia de Madrid, que conta como o governo espanhol armou uma patranha semelhante para ligar o grupo separatista basco ETA aos atentados:

"O governo de Aznar me pediu para assumir sua mentira sobre o 11-M"


O delegado Juan Jesús Sánchez Manzano, 65 anos, (...) se aposentou em outubro último e está disposto a falar, sem censura, para desmontar a "grande mentira" plantada e cultivada pelo governo de Aznar a respeito do pior atentado terrorista de nossa história.

El País: A que horas do 11 de março de 2004 você estava seguro de que se tratava de um atentado jihadista, sem qualquer relação com o ETA?
Juan Jesús
: Às 15 horas do mesmo dia. Naquele momento, inspecionávamos o furgão utilizado pelos terroristas e encontramos resíduos do explosivo Goma 2 Eco e alguns detonadores, além de uma fita cassete com cânticos do alcorão em árabe. Mas mesmo antes disso já haviam surgido indícios sobre a real autoria dos ataques, quando encontraram restos das mochilas dos terroristas - o esquadrão anti-bombas já havia comprovado que o explosivo utilizado era branco, não avermelhado como a dinamite titadyn, que o ETA utilizava normalmente. Também descobrimos que o efeito das explosões teria sido causado por um artefato mais potente do que a titadyn.

(...) Logo cedo, descartamos com certeza absoluta de que tratava-se de um ataque do ETA, e as autoridades policiais assim comunicaram às 15 horas do dia 11 de março.

El País: Por qual motivo, então, cinco horas mais tarde, o ministro do Interior Ángel Acebes teria dito que a principal hipótese era de que o ETA seria responsável?
Juan Jesús
: Isso foi o que disse o ministro Acebes no fim da tarde. Entretanto, antes, às 17:35, o governo de Aznar já havia enviado às embaixadas espanholas no exterior e também às organizações internacionais um telegrama, assinado pela então ministra das Relações Exteriores, em que atribuía explicitamente a autoria do ataque ao ETA, e solicitava aos embaixadores que sustentassem essa teoria. Não havia qualquer necessidade de fazer isso.

El País
: Por qual motivo o governo Aznar enviou esse comunicado, contrariando as informações que a polícia publicava?
Juan Jesús: Não sei, não irei fazer juízo de valor. (...)

El País: Como e quando essa mentira começou, você acredita?
Juan Jesús
: Pelo que a mídia disse, tudo começou no próprio escritório do primeiro-ministro. O dia 11 de março era uma quinta-feira e o domingo era dia de eleições gerais. Ao que parece, um dos assessores de Aznar disse: "se dissermos que foi o ETA iremos ganhar de lavada, mas se forem os jihadistas o PSOE (partido de esquerda) ganhará". A partir daí começam os comunicados atribuindo a autoria ao ETA. (...)

El País: Você diria que nosso governo fabricou no 11-M uma das maiores fake news da história de nosso país?
Juan Jesús
: Sim, uma grande mentira (...) E vimos as consequências: arrasaram a sociedade, dividiram a sociedade, dividiram as vítimas, desrespeitaram a dor das vítimas. (...)

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