O tamanho da derrota
O Conversa Afiada publica sereno (sempre!) artigo de seu colUnista exclusivo, Joaquim Xavier:
Sim, Jair Bolsonaro pensava numa vitória arrasadora. Não teve. Os golpistas imaginavam liquidar para sempre o PT e as forças populares. Não conseguiram. Das eleições, emergiu um país dividido. Os mais pobres votaram em massa contra o golpe. Os mais ricos mostraram que país preferem: um território que perpetue a herança da escravidão, subjugado aos interesses do grande capital, ajoelhado diante do imperialismo, subserviente aos abutres financeiros, satisfeito com as migalhas resultantes da exploração do trabalho mundo afora.
Por mais que as urnas tenham mostrado que a resistência ainda existe e luta, o fato é que mais uma vez o povo trabalhador sofreu novo revés. São derrotas que se somam: “mensalão”, derrubada de uma presidenta eleita de forma legítima, prisão do maior líder popular da história brasileira, destruição dos direitos trabalhistas.
E, agora, uma eleição fraudulenta em que os direitos da maioria foram solapados pela anulação de mais de 3 milhões de títulos eleitorais, veto à visibilidade de Lula e passe livre para a influência ilegal do poder econômico em redes sociais. Tudo sob as vistas grossas das “instituições” que só funcionam quando se trata de tolher a soberania popular.
Era possível virar o jogo, mesmo com tamanha artilharia jogando contra? Não era impossível. Mas seria indispensável que as forças ditas libertárias tivessem demonstrado um apego à democracia acima de interesses mesquinhos e paroquiais.
O “coronel” Ciro Gomes, por exemplo, lacrou seu atestado de óbito como político progressista ao se negar a combater o neo-fascismo de Jair Bolsonaro. Vendeu-se como um político de aluguel, capaz de mendigar votos ao chamado centrão, mas incapaz de recolher suas vaidades quando se tratou de barrar o caminho a idólatras da ditadura. Juntou-se a FHC, João Dória, Rodrigo Maia, Michel Temer e mais gente deste tipo.
O país que sai das urnas de outubro é, ao mesmo tempo, um celeiro de crises e candidato ao atraso deliberado e definitivo.
Jair Bolsonaro não passa de um personagem medíocre, um sub-Hitler. Ideologicamente, é um troglodita de carteirinha.
Coerente com esta trajetória, Bolsonaro trata-se de se cercar do que há de pior.
Seu super-ministro, Paulo Guedes, é um mercenário do grande capital. Acusado de ladrão, Guedes não esconde seus planos: vender o Brasil a preço de banana, destruir a indústria nacional e liquidar o mais rápido possível o pouco que sobrou dos direitos dos assalariados.
A única esperança nesse horizonte sombrio, como sempre, é a resistência ativa do povo humilde e trabalhador.
Desgraçadamente, as lideranças que poderiam ajudar neste combate mostram-se aquém desta tarefa.
O PT, que mal ou bem sobreviveu à artilharia inimiga, carece de dirigentes à altura deste combate. Seu principal mentor mofa na prisão. Os que estão em campo parecem mais preocupados com... 2022! Debatem manobras e atalhos parlamentares, em vez de procurar meios de se aproximar do povo para abreviar ao máximo o mandato de um ditador inimigo do Brasil.
Se depender desta turma, até lá o Brasil que se lixe.