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PT é tão obsessivo quanto quem o persegue

Fernandes: Lula aplicou dedaço em Pernambuco
publicado 02/08/2018
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Por Maria Cristina Fernandes, no PiG cheiroso:

A ideia fixa do PT


Faz quase quatro meses que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que abandonara a categoria de ser humano para se transformar numa ideia. Não haveria como prendê-lo porque já estaria pairando no ar. Se um dia parasse de sonhar, milhões de brasileiros sonhariam por ele. Se tivesse um infarto, seu coração bateria no de seus compatriotas.

A ideia que está para prevalecer é que não apenas o PT mas todo o campo da esquerda deve ser refém das grades de Curitiba. Uma ideia não precisa de registro eleitoral, programa de governo ou aliados. Basta ter a pretensão de que nenhuma outra prospere à sua sombra.

A decisão de ontem da executiva nacional não poderia ter sido mais clara. O PT abriu mão da candidatura mais competitiva que o partido já teve na disputa pelo governo de Pernambuco. Como todos os carcereiros de Curitiba sabem, não o fez pelo apoio do PSB na disputa presidencial, mas para evitar que Ciro Gomes o tivesse.

A estratégia de Lula de levar sua candidatura adiante, ainda que inviável, já estava traçada muito antes de a prisão ser dada como desfecho inevitável. Mas sua execução, num momento em que a campanha entra na fase de debates e entrevistas, explicita o alcance da ausência.

Pouco importa se o partido não participa do confronto de posições sobre os rumos do país. Tampouco interessa se candidatos com os quais o PT divide um ideário comum se estapeiem por segundos no horário eleitoral. O que o partido não pode é abrir mão da ideia. A de que Lula vem antes de tudo, da eleição e do país.

É um laranja de Lula que o PT prepara para ser ungido candidato no prazo limite dos recursos, a 20 dias do primeiro turno. O partido confia que o consagrará, a despeito do pouco tempo para fazê-lo conhecido da grande maioria do eleitorado, pela transferência de voto, ou melhor, da ideia.

E ninguém pode dizer que Lula não avisou o que estava em curso. A rigor, daria para dispensar até os eleitores, uma vez que o coração, os sonhos e, principalmente, a ideia, já está consubstanciada em milhões de brasileiros.

Por enquanto, a única ideia que, de fato, move milhões de eleitores é a escolha de um candidato que culpa mães que não escovam os dentes pela morte de crianças miseráveis e os negros por seu próprio infortúnio.

Com a decisão de ontem, o PT não comete apenas mais um dedaço que, ao longo dos últimos trinta anos, condenou sucessivas lideranças regionais promissoras ao limbo. O partido inviabiliza uma candidata que se impõe no manejo de três mitos, Lula, o avô, Miguel Arraes, e o primo Eduardo Campos. Mostra-se capaz de mobilizar militância num momento em que os partidos já não conseguem mais encher praças públicas. O partido de Marília Arraes parece ignorar qualquer outra chance de revitalizar a esquerda que não seja o #LulaLivre. Não é a toa que o deputado Jair Bolsonaro hoje disponha de exércitos mais do que virtuais.

Os petistas deixaram para a reta final a participação na disputa eleitoral que, desde a redemocratização, mais colocou o futuro do país em xeque. Estão tomados pela mesma obsessão dos adversários do ex-presidente. Se magistrados e procuradores têm a ideia fixa de mantê-lo preso em processos que acumulam pedaladas jurídicas, o PT também tem a sua. Na outra ponta da corda que resolveu esticar, também resiste a democracia. (...)