Que depois do atentado venha o "nem à bala nem à faca"!
O Conversa Afiada reproduz trecho da coluna de Tereza Cruvinel no Jornal do Brasil desta sexta-feira, 7/IX:
A espiral de ódio e intolerância que vem se adensando desde 2013 tinha que dar nisso. O atentado contra o candidato do PSL, Jair Bolsonaro - afora o repúdio geral que mereceu, inclusive dos concorrentes - cobra resposta rápida, convincente e clara das autoridades. Não pode ficar inesclarecido como aquele que foi perpetrado a tiros, em março, contra a caravana do ex-presidente Lula. Atentados desta natureza, não importa a cor ideológica da vítima, atingem o processo eleitoral e a própria democracia. Eleitoralmente, é cedo para prever seu efeito. Poderá fortalecer e ampliar a onda de seguidores de Bolsonaro como favorecer também a moderação, fazendo prevalecer o entendimento de que os problemas não podem ser enfrentados nem à bala nem à faca.
As primeiras informações sobre o agressor, Adélio Bispo de Oliveira, sugerem tratar-se de pessoa com transtorno psicológico, que disse ter agido “a mando de Deus”. Mas é preciso um esclarecimento cabal, que impeça a proliferação de especulações como as que se viam ontem nas redes sociais e nos comentários de leitores ao noticiário em tempo real.
Muitos registros foram na linha “colheu o que plantou”. Afinal, Bolsonaro diz que “violência se combate com violência”, costuma simular o ato de atirar com crianças e no sábado prometeu “fuzilar a petralhada”. Nem por isso, deve ser menor o repúdio. Outros internautas acusavam abertamente a esquerda e outros ainda sugeriam que o atentado pode ter sido uma simulação, ou um fogo amigo, para transformar Bolsonaro em vítima.
Para conter especulações como estas, que só servem para atiçar o ódio, a polícia precisa ser rápida no esclarecimento das motivações do agressor. Descobriu-se ontem que Bispo de Oliveira foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014. Talvez tenha passado pelo PDT. Mas não podem os partidos responder por atos de quem um dia foi filiado. Importante é descobrir se agiu só e com que motivação.
Felizmente, o agressor foi malsucedido e o estado de Bolsonaro, no início da noite, era estável, depois de uma cirurgia e uma transfusão de sangue. Ao contrário do que circulou inicialmente, ele correu risco, sim. Perdeu muito sangue e chegou com uma bradicardia ao hospital. O episódio não pode permitir maior envenenamento de uma campanha já marcada pelo impedimento judicial do candidato favorito, e na qual até o presidente em exercício mete a colher, fustigando candidatos com vídeos. O Brasil precisa muito destas eleições para sair do atoleiro institucional trazido pelo impeachment, que agravou também a situação econômica, que já era ruim com Dilma. Para que a travessia seja exitosa, elas precisam ser livres, pacíficas e limpas.
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