Rejeição a Bolsonaro chega a 80% nas redes sociais
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) viu a sua rejeição aumentar desde que eclodiu a crise provocada pelo coronavírus.O motivo é a perda de apoio do centro político, o que resultou no isolamento do presidente.
Para Felipe Nunes, da consultoria Quaest, o grupo com sentimento anti-Bolsonaro nas redes sociais é hoje de 80%, o que por seus cálculos seria o equivalente à soma daqueles que avaliam o governo como regular, ruim e péssimo nas pesquisas de opinião tradicionais.
“Nas redes sociais, o regular se soma às opiniões negativas”, afirmou em entrevista ao Valor Econômico.
Mais conhecido pelas divulgações mensais do Índice de Popularidade Digital (IPD), Nunes utilizou um novo indicador, chamado de Pulso Digital, que calcula o sentimento de postagens sobre um determinado ator político, num curto espaço de tempo.
De acordo com o levantamento - que analisou 1,3 milhão de publicações feitas por 450 mil perfis do Twitter - cerca de 25% do conteúdo político nesta rede social era positivo para Bolsonaro pouco antes de o presidente começar seu pronunciamento. O percentual foi ao pico de 34%, durante e logo após a fala, e teve uma queda acentuada nas horas seguintes, caindo para o patamar de 19%, 20%. “É como se o apoio tivesse que pegar no tranco, e parece que de forma robotizada, na hora do pronunciamento para depois cair a níveis mais baixos”, afirmou.
Desde a eleição, o centro é uma das bases de sustentação do presidente. A perda do apoio também é observada pela Dapp/FGV.
Segundo o diretor Marco Aurélio Ruediger disse ao Valor Econômico, a crise do coronavírus representa um momento em que o centro teve um adensamento e “se agigantou”.
Análises das interações de perfis do Twitter vêm mostrando não mais uma divisão de grupos entre bolsonaristas e a oposição tradicional, com figuras ligadas a PT e Psol, por exemplo, mas de um grande campo que junta esquerda, centro-direita - com a ascensão de figuras como os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), do Rio, Wilson Witzel (PSC), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) - até a direita histórica do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM).
“O grupo hardcore do bolsonarismo ficou imprensado depois dessa crise. A aposta do presidente em minimizar o coronavírus foi um desastre. Bolsonaro cometeu um erro brutal, como um cerco a Stalingrado. Fez troça da doença. Mas os fatos e a ciência vieram a desmenti-lo numa velocidade muito rápida”, analisou Ruediger.
“Ele dobrou a aposta na crise e teve que recuar. Mas isso passa a desconstruir a imagem de ‘mito’. Pois o mito não pode errar. E o preço a ser pago ainda será gigantesco, com o caudal de morte e dor que se seguirá pelos próximos dias”, finalizou.