Renato Meirelles: PT tem que falar do futuro
Novos eleitores nunca passaram fome na vida
publicado
20/09/2015
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O Conversa Afiada reproduz trecho da entrevista de Renato Meirelles, do Data Popular, à Istoé:
(...)
O fato de os jovens não conhecerem o Brasil pré-PT criará um abismo geracional entre a classe baixa mais velha e a classe baixa mais nova?
Renato Meirelles -
Sim, isso já acontece. Por que não faz sentido para a população brasileira a comparação entre a gestão de Fernando Henrique Cardoso e a de Dilma? Porque metade dos eleitores da última eleição não viveram os quatro anos do último mandato de FHC. Os eleitores mais novos da classe C nunca passaram fome na vida. Esta foi e eleição em que a classe C mais se dividiu, com os mais velhos votando na Dilma e os mais novos se dividindo entre Aécio, anulação e abstenção. Se o PT quiser se reeleger, o desafio é como falar do futuro. O partido hoje fala que está erradicando a pobreza e ajudando os mais pobres, mas 81% dos brasileiros se identificam como classe média. Não estou falando que eles são, mas que eles se veem assim. Esse cara fala “pobre não sou eu, então não estão resolvendo a minha vida”. A esquerda acha que todo mundo associa redução da miséria com igualdade de oportunidades. Mas redução da miséria fala para o passado e igualdade de oportunidades fala para o futuro. Para a dona Maria isso não é automático. Ao mesmo tempo, o brasileiro não vê mérito em ganhar uma corrida de 100m saindo 50m na frente. O discurso da igualdade de oportunidades será a plataforma do próximo presidente da República, não tenho dúvida nenhuma disso. Se ele vai vir do PSDB, do PT ou de outro partido é uma história diferente.
Os políticos se comunicam com o jovem brasileiro?
Renato Meirelles -
Os políticos brasileiros são analógicos e o novo eleitor é digital. O político brasileiro está acostumado a falar, não a ouvir. A lógica digital é a lógica de querer ser protagonista, de quem tira selfie na manifestação. Eu quero ouvir, mas eu também quero ser ouvido. Os políticos são da época da televisão. A TV era uma janela para o mundo, a única forma de as pessoas saberem o que está acontecendo lá fora. A internet é uma vitrine para o mundo. Os políticos não entendem isso.
Como unir o Brasil?
Renato Meirelles -
A mudança do discurso é fundamental. Parte considerável dos brasileiros acha que o Bolsa Família não ensina a pescar. E por outro lado os governistas gritam que quem diz isso é coxinha. Esse lado é o do dissenso. Mas e o lado do consenso? Um dos poucos itens que tem quase a unanimidade da opinião pública brasileira é a defesa da educação como a única forma de o Brasil melhorar.
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O fato de os jovens não conhecerem o Brasil pré-PT criará um abismo geracional entre a classe baixa mais velha e a classe baixa mais nova?
Renato Meirelles -
Sim, isso já acontece. Por que não faz sentido para a população brasileira a comparação entre a gestão de Fernando Henrique Cardoso e a de Dilma? Porque metade dos eleitores da última eleição não viveram os quatro anos do último mandato de FHC. Os eleitores mais novos da classe C nunca passaram fome na vida. Esta foi e eleição em que a classe C mais se dividiu, com os mais velhos votando na Dilma e os mais novos se dividindo entre Aécio, anulação e abstenção. Se o PT quiser se reeleger, o desafio é como falar do futuro. O partido hoje fala que está erradicando a pobreza e ajudando os mais pobres, mas 81% dos brasileiros se identificam como classe média. Não estou falando que eles são, mas que eles se veem assim. Esse cara fala “pobre não sou eu, então não estão resolvendo a minha vida”. A esquerda acha que todo mundo associa redução da miséria com igualdade de oportunidades. Mas redução da miséria fala para o passado e igualdade de oportunidades fala para o futuro. Para a dona Maria isso não é automático. Ao mesmo tempo, o brasileiro não vê mérito em ganhar uma corrida de 100m saindo 50m na frente. O discurso da igualdade de oportunidades será a plataforma do próximo presidente da República, não tenho dúvida nenhuma disso. Se ele vai vir do PSDB, do PT ou de outro partido é uma história diferente.
Os políticos se comunicam com o jovem brasileiro?
Renato Meirelles -
Os políticos brasileiros são analógicos e o novo eleitor é digital. O político brasileiro está acostumado a falar, não a ouvir. A lógica digital é a lógica de querer ser protagonista, de quem tira selfie na manifestação. Eu quero ouvir, mas eu também quero ser ouvido. Os políticos são da época da televisão. A TV era uma janela para o mundo, a única forma de as pessoas saberem o que está acontecendo lá fora. A internet é uma vitrine para o mundo. Os políticos não entendem isso.
Como unir o Brasil?
Renato Meirelles -
A mudança do discurso é fundamental. Parte considerável dos brasileiros acha que o Bolsa Família não ensina a pescar. E por outro lado os governistas gritam que quem diz isso é coxinha. Esse lado é o do dissenso. Mas e o lado do consenso? Um dos poucos itens que tem quase a unanimidade da opinião pública brasileira é a defesa da educação como a única forma de o Brasil melhorar.
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