Sakamoto: Bolsonaro age como fã de Trump nas redes
(Charge: Amarildo)
Do Leonardo Sakamoto, no UOL:
Um discurso simplesmente FANTÁSTICO de Donald Trump. "Nosso trabalho é colocar os Estados Unidos em primeiro lugar."
O presidente Jair Bolsonaro postou essa declaração em sua conta no Facebook, no início da madrugada desta quarta (5), sobre o discurso do Estado da União - tradicional pronunciamento anual do presidente norte-americano ao Congresso.
Imediatamente vieram reações à declaração, lembrando que o mandatário brasileiro mantém com seu colega não apenas um questionável alinhamento automático na política externa, mas também uma relação de fã. Donald é o herói de Jair.
Para uma boa parte dos seguidores de Bolsonaro, isso é uma qualidade, pois também são fãs incondicionais do presidente norte-americano.
O que não inclui a ala militar de seu governo, por exemplo. Que até pode demonstrar simpatia ideológica, mas acredita que soberania não é fruto de discurso, mas se reafirma através de comportamentos independentes no cotidiano. Ou seja, não inclui relações de suserania e vassalagem.
Bolsonaro acrescentou um comentário à própria postagem, 44 minutos depois, justificando a primeira - "desemprego o menor da história", "economia melhor do mundo", "valor da família renovados", "fronteira mais segura", "mais de US$ 2 tri para as Forças Armadas", "apoio à Venezuela livre", "contra o socialismo".
O presidente da República sabe que sua claque não se importa com a necessidade de que seu líder político evite demonstrar desprezo pelo próprio povo - ou não entende essa necessidade. Recentemente, endossou um vídeo com a palestra de um jornalista defendendo que se trocasse a população do Brasil com a do Japão, nosso país iria crescer economicamente.
O viralatismo presidencial não é novidade para alguém que bateu continência à bandeira dos Estados Unidos sem estar concorrendo a um greencard. Mas apesar de uma concessão aqui, uma promessa de OCDE ali, a relação não tem sido muito vantajosa para nós. Pelo contrário, vamos passando vergonha.
Claro que Bolsonaro também queria fomentar a polêmica, ainda mais em um momento em que alguns de seus assessores, como Fabio Wajngarten, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, está sendo investigado pela Polícia Federal por corrupção passiva e peculato. Desviar a atenção com uma frase - "Nosso trabalho é colocar os Estados Unidos em primeiro lugar" - colocada de forma dúvida, criando margem a múltiplas interpretações, é sempre útil.
Mar agir alinhado aos Estados Unidos, sendo até seu garoto de recados, chegando a apoiar o assassinato de um general iraniano pelo Tio Sam, sem ter o seu tamanho econômico para aguentar o tranco, vem transformando o Brasil em uma espécie de poodle norte-americano do sistema multilateral. O papel já foi exercido pelo ex-primeiro ministro britânico Tony Blair, que - ao menos - não era babão como o brasileiro.
Ninguém vai nos retirar do jogo comercial (dinheiro é pragmático), mas sua opinião já não tem o mesmo valor. Sem contar que estará sujeito a boicotes de empresas e fundos de investimento, pois alinhamento ideológico a negacionistas climáticos é queimar grana. O pior, contudo, é ver um presidente brasileiro rasgar mais de um século de política externa brasileira, nos tornando motivo de chacota no mundo livre, por pura ideologia.
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