Temer, Cunha e Maia: os pais do distritão
A trinca do distritão
O Conversa Afiada reproduz imperdível artigo de Maurício Dias, na CartaCapital:
A trinca do “distritão”
O Parlamento brasileiro, soma da Câmara e do Senado, tem o vício de alterar constantemente o processo político-eleitoral. Parece um caso de sedução ou de malandragem incontrolável. Ao longo das duas últimas décadas foram feitas 14 modificações. Mas não parou por aí e, agora, pode chegar a 15.
A comissão especial na Câmara, que trata das reformas, aprovou rapidamente nos últimos dias o texto-base que, se aprovado, vai alterar expressivamente, para candidatos e eleitores, os procedimentos da situação existente.
A modificação, se aprovada, pretende inserir na votação o chamado “distritão”. Ou seja, a criação de distritos eleitorais para a escolha de deputados federais, estaduais e vereadores.
Falar é fácil, implantar e definir o processo é que será difícil. A quem pode interessar, mais diretamente, a mudança do sistema eleitoral nessa direção? Há pegadas iniciais.
O sobredito “distritão” apareceu para debate político, em 2011, patrocinado por Michel Temer. O fruto não chegou a amadurecer naquele momento. Mas surgiram dois outros patronos da proposta: Eduardo Cunha e Rodrigo Maia. A trinca, porém, se desfez. Temer é presidente da República, Maia é presidente da Câmara e Cunha está na cadeia.
Na votação da comissão da reforma, naquele ano, o “distritão” obteve 18 votos e o “distrital misto” conseguiu 14. Na votação de agora, o “distritão” obteve 17 votos a favor e 15 contra. As chances não melhoraram. Na votação do plenário, em 2011, o “distritão” recebeu 267 votos contrários e 210 a favor. Eram necessários 308 votos para a aprovação.
Os parlamentares favoráveis têm apenas argumentos frágeis e suposições duvidosas. Sustentam que o sistema é fácil de ser absorvido e entendido pelos eleitores. Este é um lado da coisa. Há, porém, um jogo de siglas no lado oposto. Inquietante.
Numa análise mais ampla, o “distritão” pode favorecer os parlamentares já eleitos e, em outra instância, os deputados de siglas sem programa político. Falta identidade própria. Enquadram--se aqui partidos como o PP e o PSD. Exemplos que seriam favorecidos pelo “distritão”.
Não há dúvidas, porém, de que essa mudança tenderia a favorecer o poder financeiro e que certos partidos tendem a perder força. O PT pode ser a maior vítima.