Tempo de TV não se mede só em segundos
Tijolaço: quanto mais proibirem o Lula, mais atenção ele terá!
publicado
08/08/2018
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Reprodução: Tijolaço
Por Fernando Brito, no Tijolaço:
O tempo de TV não se mede só em segundos
Já participei da confecção de campanhas eleitorais em televisão de todos os tipos.
Com muito tempo, com pouco tempo; com candidatos “duros” e com candidatos comunicativos, com candidatos que podiam falar e com candidatos que “não podiam falar”.
Existem dois eixos de campanha, basicamente.
O racional-propositivo e o emocional. Não são excludentes, é claro, mas um dos dois deve ser dominante.
Mas sempre são complementares, para serem bem sucedidos.
Embora seja possível, é difícil tocar uma campanha meramente racional e de propostas, tal como é suado carregar a propaganda apenas na emoção.
Afinal, você não pode pensar em apenas comover alguém, dia sim, dia não, ao longo de mais de um mês, tal como não é possível ficar por este tempo dizendo o que fez e o que vai fazer.
Não creio que a falta de tempo de TV para Jair Bolsonaro vá tirar dele o que ele tem.
Ele é um outsider e polarizou o ódio social que tantos adubaram de forma sólida.
Marina, ao contrário, vai se ressentir da perda dos quase 2 minutos que tinha em 2014 para os 16 segundos que terá agora.
É pouco para posar de mártir, e mártir sem causa, afinal.
Meu palpite? “Geraldo” Alckmin tentará ser o “paz e amor”, não o Bolsonaro Opus Dei, que ficará restrito às redes sociais, território de seu concorrente de extrema direita.
A nova regra da propaganda, pela qual “apoiadores” não podem ocupar mais de 25% do tempo do programa, será um problema adicional para Alckmin, cuja figura pouco empática não poderá ser substituída por “apresentadores” em mais do que um minuto e meio dos seis que compõem seu latifúndio eleitoral. Embora com menos tempo, Henrique Meirelles terá problema igual.
Ciro e Álvaro Dias, com 33 segundos cada, serão meros coadjuvantes dos espetáculo.
Os dois minutos da chapa do PT são mais que suficientes para o confronto.
O que é um problema para Alckmin e também para Meirelles, servirá para Fernando Haddad e Manuela D’Ávila desfilarem sua juventude como “resgatadores” da Lula. O lado propositivo e o emocional podem ser perfeitamente fundidos em um sem número de situações: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, transposição do São Francisco, indústria naval, pré-sal e uma lista que encheria páginas. Como “apresentadora”, Manuela pode ocupar tempo até que seja formalizada como candidata a vice.
Nada impede também a “presença” de Lula no programa, embora seja isto o que, desesperadamente, se constitui na grande “causa” do Poder Judiciário e de seus adversários.
Imagens, o rosto do ex-presidente, seu nome, tudo vai “vestir” os dois minutos petistas, talvez até literalmente.
A proibição de que Lula fale só tornará mais forte o que ele disser por intermédio de outros, que possam emprestar a emoção às “verdades que não podem ser ditas”.
A ideia de que o tempo de Alckmin basta para elevá-lo ao lugar que esperam é falsa. Ajudará, como toda superexposição, mas está longe de ser remédio para seu jeito insosso.
Assim como é falsa a ideia de que impedir Lula de aparecer vá retirar o ex-presidente da televisão. Quanto mais proibido for, mais atenção terá.