Virgílio: PSDB se acha o último biscoito do pacote
O Conversa Afiada reproduz trecho de entrevista concedida pelo Prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), à BBC Brasil:
BBC Brasil - Por que o senhor desistiu de disputar as prévias para candidatura presidencial do PSDB?
Arthur Virgílio - A ideia inicial era fazer uma bela colaboração ao país e o partido. Por isso, eu propus dez debates e uma plataforma de internet para fazermos a votação por urna eletrônica. Propus que viajássemos o país inteiro. E eles foram postergando, postergando, postergando, a ponto de tudo se tornar inviável.
Então, eu senti que estava na hora não de desistir, mas de denunciar isso, me afastar de um processo que poderia descambar para o fraudulento.
BBC Brasil - Falta uma cultura de prévias aos partidos brasileiros, ao PSDB em especial?
Virgílio - Ele (Alckmin) gosta das prévias, desde que ele ou os candidatos dele ganhem. A prévia para disputar a prefeitura em 2012 (em que ganhou o atual prefeito João Dória, apoiado por Alckmin) foi de qualquer jeito. Ele não queria uma prévia aberta, correndo riscos reais. Apesar de todo seu controle sobre o partido, ele sabia que iria enfrentar o imponderável, de repente ficar exposto no debate.
Ele quer ser o candidato por exclusão. Por exclusão ele queria ser presidente do partido. Por exclusão, ele queria ser o candidato do partido a Presidente da república. Por exclusão, ele quer chegar ao segundo turno. Por exclusão, ele pensa que pode ganhar a Presidência da República. E ele não combina com os adversários.
É uma pessoa que tanto não sensibiliza ninguém de verdade que o presidente Fernando Henrique Cardoso insistentemente tem proposto alternativas a ele. Duas das quais foram bola fora: o apresentador de auditório (Luciano) Huck, e o empresário Flávio Rocha (dono da Riachuelo). Mas ele tocou no nome do Pedro Parente (presidente da Petrobras). Pelo que fez pela Petrobras no plano nacional, pelo que está fazendo pela Petrobras no plano internacional e negociando as dívidas junto à justiça norte-americana, eu embarcaria de olhos fechados numa empreitada a favor dele.
Se ele aceitasse (ser candidato), o Geraldo Alckmin deveria desistir em favor dele por se tratar de uma pessoa realmente qualificada, que poderia sensibilizar vários setores da sociedade e unir o partido.
BBC Brasil - Por que Pedro Parente teria mais musculatura eleitoral, mais condições de ganhar do que o atual governador de São Paulo?
Virgílio - Porque cada eleição é uma eleição. O Pedro Parente hoje pode não ter essa suposta musculatura eleitoral, mas o Fernando Henrique também não tinha quando começou a ser o executor do Plano Real. Na verdade ele tinha um potencial enorme porque estava trazendo aquele sonho da estabilidade econômica, transformando aquilo em realidade. O Pedro Parente está salvando a Petrobras, mostrando o tipo de executivo que ele é.
Se o Geraldo Alckmin tivesse efetiva força em São Paulo, ele teria que ter só em São Paulo, digamos, 40% (das intenções de voto). Com isso, ele nasceria com 9% nas pesquisas. Ele nunca teve 9% em pesquisa nenhuma. Então ele não tem 40% em São Paulo.
Outro dia vi uma pesquisa, (Alckmin tinha) 1% em Alagoas. Tem uma linguagem para falar com o Norte, para falar com o Nordeste. Eu sentia muito mais fácil eu falar para São Paulo, do que ele falar para o meu pequeno Amazonas.
A gente não percebe o traço da preocupação com o ser humano no discurso dele. Sob a desculpa de dizer que não é populista, na verdade ele não é uma pessoa de preocupações populares. Eu não me sinto populista, mas me sinto como uma pessoa com preocupações populares claras. Ou seja, eu devoto toda minha vida às pessoas que são menos privilegiadas. Não é esse o perfil que eu vejo no PSDB. O PSDB sempre foi um partido meio esnobe, meio de nariz empinado, se sentindo elite, o último biscoito do pacote. E ele tampouco, ele não tem esse perfil (de preocupação social).
(...)