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Xavier: s​​ai do muro, Ciro!

Esse Judiciário não presta, o "do habeas corpus vitalício para Daniel Dantas, a blindagem vitalícia aos tucanos​..." ​​
publicado 23/01/2018
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​O Conversa Afiada publica artigo sereno (sempre!) do colUnista exclusivo Joaquim Xavier:

Se há um político que merece respeito, este é Ciro Gomes. Nem tanto pelo seu passado remoto, onde consta até uma passagem pela finada Arena dos militares, então rebatizada de PDS, e uma proximidade extrema com Tasso Jereissati, tucano de altíssima plumagem. Ciro explica os escorregões por motivos regionais e familiares. Vá lá.

Mas o fato é que, nas últimas décadas, Ciro tem se pautado pela defesa dos interesses do país. Com um desassombro ímpar no pântano político hegemônico por aqui, Ciro não economiza adjetivos contundentes aos que rifam o Brasil e avançam sobre os direitos do povo. Chama as coisas pelo nome: Temer é ladrão, o governo é composto de quadrilheiros e nada se pode esperar da chusma de golpistas que vem arruinando o Brasil.

Sem travas na língua, Ciro muitas vezes é criticado pelo “destempero”. Tais adversários não se dão ao trabalho de confrontar a acidez de seus diagnósticos com os fatos à vista de todos. O C Af fez isto​ recentemente. Ciro quase invariavelmente tinha razão.

Inclusive com relação ao PT. A elasticidade excessiva da política de alianças do partido, a docilidade diante da mídia global e a falta de ousadia em momentos decisivos sempre foram alvo da metralhadora verbal de Ciro. Hoje elas ecoam mesmo dentro do PT.

Personagens como Ciro Gоmes são necessários, quando não indispensáveis, na construção de uma democracia digna deste nome. A diversidade de opiniões é inseparável deste processo. Mas a unidade na ação diante de inimigos mortais da soberania do povo, também.

Por isso é de se estranhar o atraso, para dizer o menos, da adesão de Ciro Gоmes ao movimento “Eleição sem Lula é fraude.” Tão estranho como isso é o post em que ele defende a absolvição de Lula, mas afirma:

"O Judiciário brasileiro, assim como os outros poderes de nossa frágil República, tem graves defeitos - nunca me abstive de criticá-los - mas imaginá-lo parte orgânica de uma conspiração política ofende a inteligência média do país e, pior, a consequência inevitável desta constatação teria desdobramentos tão graves que a um democrata e republicano só restaria a insurgência revolucionária. Não creio, definitivamente nisto”.

Não, este não é o Ciro que o Brasil se acostumou a ver e ouvir.

Se há alguma coisa que a inteligência média do país já percebeu há tempos é a existência, sim, de uma conspiração não só do Judiciário, mas que envolve Executivo e Legislativo e forças de além-mar.

Uma operação voltada a eternizar os rentistas e ladrões no poder e eliminar Lula do cenário político, levando o PT e qualquer liderança popular verdadeira no mesmo féretro.

Os exemplos são tão gritantes que parece impossível alguém tão lúcido e esclarecido como Ciro ignorar. Eles não vêm de agora. O enterro da operação Castelo de Areia, o habeas corpus vitalício para Daniel Dantas, a blindagem vitalícia aos tucanos, as gravações criminosas para impedir a nomeação de Lula, as chicanas judiciais do Supremo Tribunal Federal.

Isso para não recordar, por demais expostas, as aberrações cometidas pelo juiz Sérgio Moro ao arrepio de princípios jurídicos consagrados, tão estarrecedoras a ponto de provocar condenação unânime de especialistas nacionais e internacionais.

Ciro tem todo o direito de defender seu projeto político. De se diferenciar do PT, criticar Lula por erros (que não foram poucos) e almejar ele próprio o poder. Mas sempre é bom lembrar certos ensinamentos da história. Em nome de diferenças incompreensíveis para a grande massa, socialistas e comunistas, estes estimulados por Stálin, deixaram de se unir contra a ameaça fascista na Alemanha. Deu no que deu. Os tempos são outros, os atores idem, mas os princípios da frente única –liberdade de pensamento, unidade na ação—permanecem válidos até hoje.

Sai do muro, Ciro Gоmes.


Joaquim Xavier​
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