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Dia do Nordestino. Cerra: a culpa é deles !

"Se os estados do Sul tem Um nível mais elevado, E o da capital paulista Está em péssimo estado, Para José Serra é simples,O migrante é o culpado."
publicado 08/10/2012
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Que o digam Carla Vilhena; junto com Chico Pinheiro; que ouviram a tal desculpa; dada de um modo rasteiro.



O Conversa Afiada reproduz e-mail e poesia que recebeu do Marco Haurélio:

Neste 8 de outubro, Dia do Nordestino, lembrei-me de um poema em cordel que escrevi em 2006. Naquela ocasião, José Serra, então candidato ao governo de São Paulo, atribuía, num programa de TV, a culpa pelo péssimo desempenho da educação pública em São Paulo a "problemas de migrantes".

Abaixo o cordel  A PELEJA DE JOSÉ SERRA COM O MIGRANTE NORDESTINO, pois, mais do que viver, recordar é indignar-se:


Eu escrevi o cordel
Nordeste, terra de bravos,
Falando daqueles que
Não nasceram para escravos,
Mesmo enfrentando ofensas,
Preconceitos e agravos.



Mas o preconceito ainda

Se alastra como a peste,
Porque quem dele se seve
Contra o bom senso investe,
Atribuindo seus erros
Ao ‘pessoal’ do Nordeste.

Um programa de TV,
Dia 16 de agosto,
Comprovou que o preconceito
É real e não suposto
E na escala do poder
Ocupa altíssimo posto.

Ao Governo de São Paulo
José Serra é candidato.
Foi ele que, num programa,
Explicando um triste fato,
Fez com que os nordestinos
De novo pagassem o pato.

Foi no SPTV
Numa entrevista ao vivo,
Que o Serra, ao ser perguntado
Sobre o quadro negativo
Da educação em São Paulo,
Achou um torpe motivo.

Se os estados do Sul tem
Um nível mais elevado,
E o da capital paulista
Está em péssimo estado,
Para José Serra é simples,
O migrante é o culpado.

Cinquenta e oito por cento (58%)
Da população migrante
Tem origem nordestina,
E isto foi o bastante,
Para que o Serra pusesse
A culpa no ‘retirante’.

Isto não é invenção
De um trovador brasileiro;
Que o digam Carla Vilhena
Junto com Chico Pinheiro,
Que ouviram a tal desculpa,
Dada de um modo rasteiro.

Segundo Serra, no Sul,
Há mais qualificação,
Pois os estados não têm
‘Problemas’ de migração.
Por isso São Paulo enfrenta
Tão grave situação.

As salas superlotadas
Estão pedindo clemência
E se a educação está
Com tanta deficiência,
Que o nordestino pague
O preço da incompetência!

Serra, que foi professor,
Bem antes de ser prefeito,
Sabe que por ser um homem
Público não tem o direito
De semear entre o povo
O gérmen do preconceito.

Seja político ou artista,
Tendo visibilidade,
Quem espalha ideias tem
A responsabilidade,
Ao semear a justiça
Ou espalhar a maldade.

Um exemplo bem famoso
É o antissemitismo,
Enraizado na Europa,
À época do feudalismo.
foi, cultivado por séculos,
Desembocou no Nazismo.

Essa atitude de Serra
É mais um triste sinal
Que o homem sem autocrítica,
Com mente medieval,
Prefere apontar culpado
E não debelar o mal.

O mundo inteiro conhece
O exemplo do Japão,
Que renasceu das ruínas,
Apoiando a educação –
Em vez de buscar culpados,
Lá se buscou solução.

“O inferno são os outros”,
Jean-Paul Sartre já dizia.
Creio que Serra o conhece;
Se não conhece, devia
Tentar sorver deste sábio
Alguma sabedoria.

Com certeza, José Serra
Conheceu Celso Furtado,
Também de Gilberto Freyre
Ele deve estar lembrado;
Deve ter lido algum livro
Da lavra de Jorge Amado.

Nos tempos de professor,
Ou fazendo algum estudo
Um dia ouviu falar sobre
Luís da Câmara Cascudo,
Nordestino a quem chamavam
“O homem que sabe tudo”.

São Paulo também possui
Admiráveis valores;
Por isso, a nossa cultura
Se tinge de muitas cores.
Só a discriminação
É isenta de louvores.

Reduzir a incompetência
A uma causa somente,
Munir-se do preconceito,
É no mínimo incoerente:
É reduzir o discurso
Ao argumento indigente.

É acreditar somente
Em um mundo organizado
Convencionalmente em
Bom e mau, certo e errado;
É fugir da obrigação
Para a qual foi delegado.

As cercas do preconceito
Precisam ser abatidas;
As questões mais importantes
Não podem ser esquecidas:
De atitudes honestas
Dependerão muitas vidas.

A todos os nordestinos
De toda e qualquer nação:
Os ‘nordestinos’ do Líbano
Ou os do Afeganistão,
De Guantánamo, Palestina,
Mando minha saudação.

Favelas e viadutos
Devem ser iluminados
Pelos bens que até agora
Aos pobres são sonegados,
Ornando as paredes de
Poucos privilegiados.

Dos escombros da FEBEM
Um dia possa nascer
A esperança de todos
Em um novo alvorecer,
Que só a educação
Nos consegue oferecer.

Meu poema em cordel é
Minha contribuição
Para um debate sincero
Sobre a discriminação,
Câncer que precisa ser
Vencido pela razão.

O Serra apenas falou
Algo que estava entranhado,
E que no momento foi
Do seu âmago resgatado,
Mas seu posicionamento
É agora contestado.

A ditadura acabou.
Portanto, me manifesto.
Apesar de ser pra muitos
Assunto muito indigesto,
É em poesia que
Eu escrevo este protesto.

Que a minha voz se junte
Ao protesto de milhões,
Que começam a romper
Os seculares grilhões,
Pra que o futuro ofereça
Democráticas condições.

Quem espalha o preconceito
Como verdade inconteste,
Contra aquele que o espalha
Um dia, a verdade investe –
‘Seu’ Serra, deixa de teima,
Pois essa verdade queima
Bem mais que o Sol do Nordeste.

Marco Haurélio