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Horror da ditadura: “Como toda uma geração, fui muito torturada”

É o que revela Eleonora Menicucci, ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, em entrevista ao Blog do Planalto
publicado 11/12/2014
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No Blog do Planalto:

Entrevista especial com Eleonora Menicucci: “Como toda uma geração, fui muito torturada”

 

 

O Dia Internacional dos Direitos Humanos, esta quarta-feira (10), foi marcado pela entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Em uma matéria especial sobre o tema, o Blog do Planalto publica entrevista com Eleonora Menicucci, ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Ela conta as memórias do que viveu durante a ditadura e reafirma a importância do trabalho da Comissão. As declarações são fortes, corajosas e emocionantes. Antes de tudo, são reveladoras.

 

Feminista de primeira hora, Eleonora Menicucci de Oliveira é mineira da cidade de Lavras. Interessou-se pelo ideário socialista na juventude e, após o golpe militar de 1964, iniciou sua participação em organizações de esquerda. Em 1971, foi presa e passou quase três anos na cadeia, na cidade de São Paulo.

 

Leia a seguir trechos e assista à entrevista completa no final desta matéria.


Ministra, a senhora pode contar um pouco sobre sua experiência pessoal durante a ditadura?

Fui presa em 1971, em julho. Eu tinha por volta de 24, 25 anos. E, como toda uma geração, fui muito torturada, muito violentada, todo tipo de tortura. No DOI-CODI você podia ser assassinada, morrer ou não, e ninguém ficava sabendo…

Fomos para o Dops (Departamento de Ordem Política e Social), onde você fazia depoimentos e você não estava sob tortura física, você estava sob tortura psicológica, você precisa ser muito forte para sobreviver à ela.


A senhora ficou presa por quanto tempo?

Ao todo eu fiquei quase três anos presa. O marco que eu tenho, é que minha filha tinha um ano e oito meses quando fui presa. Quando eu saí, ela tinha cinco. Ela ficou com a minha mãe.


Ficaram traumas?

É, tem um trauma… Eu diria que eu transformei, com a psicanálise que eu fiz, o trauma na saudade do que eu não tive, que foi ver o crescimento [da minha filha], participar do crescimento dela e estar com ela.

Durante o lançamento do portal Memórias da Ditadura, a senhora disse que chegou a pensar que seria melhor ter morrido.

Quando disse aquela frase, que preferia ter morrido tamanha era a dor da tortura, e a dor de ver companheiros assassinados ou companheiras assassinadas, eu não sabia se eu teria força para aguentar mais.

Para a senhora, pessoalmente, qual é o sentimento nesta semana, com a divulgação do relatório?

Nos 50 anos do golpe se entrega o relatório da CNV. Essa semana eu estou muito emocionada, acho que é uma semana importantíssima, de grande magnitude política do Brasil, para a América do Sul, que só faltava o Brasil. Mas para nós que estamos sem revanchismo, sem mágoa, em hipótese nenhuma…

 

Qual o significado de a senhora ter estado na torre das donzelas e hoje ser ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres?

É um processo que me honra muito. Mas também me faz muito humilde de saber que toda essa história é uma história que eu fiz com um coletivo de mulheres. Porque eu acredito nisso, e aqui eu preciso das mulheres para que as políticas se façam, se tornem efetivamente realidade nas vidas delas.

Extras: Em 1985, Maria Oliveira, filha de Eleonora Menicucci, junto com Marta Nehring, dirigiu o documentário “15 filhos”. O filme retrata a época da ditadura por meio da memória de infância dos filhos de militantes presos, mortos ou desaparecidos. Em seu depoimento, Maria homenageia a sua mãe.



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