Comparato: Francisco I é um revolucionário
A abertura da Igreja Católica a setores não ligados à religião e a crítica ao capitalismo fazem do Papa Francisco I um revolucionário - é a opinião de Fábio Konder Comparato, pensador, escritor e Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4727856D9.
Nessa quinta-feira (16), Paulo Henrique Amorim entrevistou Comparato no Conversa Afiada e tratou da Encíclica Laudato si’, publicada em 18 de junho de 2015, em que critica o consumismo e denuncia a degradaçao do meio ambiente, e do pronunciamento do Papa no encontro de Movimentos Sociais, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolivia.
“ Essa Encíclica não é apenas uma continuação das Encíclicas sociais anteriores, ela representa, também, uma abertura para todos os líderes não cristãos e religiosos. Uma abertura no sentido do altruísmo, ou seja, precisamos de deixar de olhar para o nosso umbigo. Temos que sentir os grandes problemas da humanidade. E o grande problema da humanidade é a destruição da biosfera”, afirmou Comparato, que concorda com o teólogo Leonardo Boff, para quem o papa fez a opção pelos pobres.
Para Comparato, “ a crítica severa da situação atual do mundo vem da formação jesuítica de Francisco”.
Leia outros trechos da primeira parte da entrevista:
Inovação do Papa Francisco I
Ele representou uma abertura extraordinária que antes só havia sido feita por João XXIII, quando convocou o Concílio e disse que a Igreja precisava se abrir para o mundo, pois estava fechada sobre si mesma.
A desigualdade
Um fato evidente é que a partir da Revolução Industrial iniciou-se um processo de desigualdade entre pobres e ricos na humanidade.
E quem produziu isso foi o sistema do capitalismo, que é fundado no egoísmo.
Critica do Papa Francisco ao capitalismo
É uma crítica moderada. Na verdade, a Igreja nunca teve coragem de criticar o capitalismo. Ela não seguiu, nesse particular, a sentença determinante de Jesus quando disse: “Não podeis servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro”.
A Encíclica Laudato si’ não é literalmente contra o capitalismo.
O Papa disse, na Bolívia, que é preciso apoiar os mais pobres com os três Ts: terra, trabalho e teto.
O Papa Jesuíta
O fundamento dessa crítica severa da situação atual do mundo vem da formação jesuítica dele. Os jesuítas sempre foram analistas muito profundos dos males da sociedade.
O Papa Francisco é um verdadeiro revolucionário. Ele se liga às grandes autoridades religiosas adeptas do altruísmo. Por exemplo, o Dalai Lama, que diz claramente que a sua pregação não é religiosa.
O Papa Francisco e a teologia da libertação
Ele tem uma outra tonalidade, pois critica muito o capitalismo, mas não parece ter uma influência marxista, como na teologia da libertação.
Comparato critica a perseguição a Leonardo Boff e lembra que João Paulo II foi ao Chile e abençoou o ditador Augusto Pinochet. O contraste entre João Paulo II e Francisco I é muito grande.
Comparato discute ainda que tipo de influência Francisco I pode vir a ter sobre partidos e políticos brasileiros: não será uma influencia do ponto de vista religioso, disse ele.
Não deixe de ler também as entrevistas de Alfredo Bosi e Leonardo Boff ao Conversa Afiada, sobre o Papa.
Breve, o Conversa Afiada exibirá a segunda parte da entrevista, em que Comparato trata do Papa, da Comunicação de Massa e do Brasil.