Golpe de 64 fechou a maior empresa de aviação
Em fevereiro de 1965 , despacho assinado pelo presidente da República, o marechal Castello Branco, e pelo ministro da Aeronáutica, brigadeiro Eduardo Gomes extinguiu a maior empresa de aviação comercial do Brasil, a Panair.
A Panair explorava a maior parte dos voos internacionais do Brasil, liderava os voos para a Europa, e tinha uma vasta rede nacional. Além de possuir uma complexa estrutura em terra com aeroportos próprios e uma área de telecomunicações aeronáuticas privada.
A destruição da Panair – um dos primeiros atos do regime militar de 1964 - fez parte de uma operação orquestrada, que destruiu o conglomerado empresarial de Mário Wallace Simonsen, também dono da Rede Excelsior e da empresa de café Comal, que era o centro financeiro do grupo.
A versão das autoridades governamentais à época era a de que a Panair seria "devedora da União e de diversos fornecedores". O jornalista Daniel Leb Sasaki tem outra explicação.
Sasaki lança nesta terça-feira (28), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, a 2a edição do livro “Pouso Forçado - A história por trás da destruição da Panair do Brasil pelo Regime Militar" (Editora Record), em que mostra como a união do Governo, de empresários e de parte da imprensa culminou no fim da companhia aérea.
Na segunda-feira (27), Sasaki esteve no Conversa Afiada para entrevista com Paulo Henrique Amorim.
“As denuncias contra o Simonsen começaram com os negócios de café. Em 1960, ele resolveu criar uma subsidiária brasileira na Suíça para intermediar negócios de café com a Europa, EUA e com planos de entrar na Ásia. O Saulo Ramos [ex-ministro da Justiça] foi advogado do escritório que defendeu o Simonsen, conta que o ponto culminante foi quando o Simonsen teve a ideia de entrar no varejo ( do café). Ele queria chegar à etapa final, e os concorrentes internacionais pensavam que ele iria dominar todo o processo”, revelou o jornalista formado pela PUC-Campinas.
“Na época do Golpe, o Simonsen já sofria um ataque sustentado em veículos da mídia, entre eles Estadão que esculachou o Simonsen. No jornal, era colunista o Herbert Levy, que foi deputado [pela UDN], que transformou denuncias contra o Simonsen em uma CPI. Denuncias com provas falsas. Os advogados do Simonsen alegam que foi uma disputa concorrencial política e houve evidências disso”, continuou o autor de “Pouso Forçado - A história por trás da destruição da Panair do Brasil pelo Regime Militar".
Leia um resumo da entrevista:
O que houve com a Panair no Brasil
O que aconteceu foi um grande susto, pois era uma companhia muito consolidada, a mais tradicional do país, estava em nível de igualdade com as grandes do mundo. E, literalmente, do dia para a noite ela parou de funcionar.
No mesmo dia que a empresa recebeu o despacho por telegrama, à noite o voo que sairia para a Europa não saiu e já havia uma substituição por um avião da Varig.
Quem foi o responsável?
Eu precisei de um livro inteiro para contar. Alguns episódios só foram confirmados muito recentemente e por um civil: oJosé Carlos Fragoso Pires, última pessoa viva do grupo de trabalho que preparou o fim da Panair. Ele assessorou o ministro da Aeronáutica, Eduardo Gomes.
O José Carlos me contou que foi dele a ideia de cassar as linhas da Panair, pois eles não conseguiriam fechar a empresa sem cassar as linhas. Quer dizer, cassou as linhas e preparou as concorrentes (a Varig) para assumir os voos.
A tese defendida era provar que a Panair não era essencial para a aviação comercial brasileira..
Por que os militares queriam fechar a Panair
Tem uma confluência de fatores. O fato é que eram dois acionistas majoritários - Mário Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda. E os dois eram bem consolidados nas áreas deles. O Mario principalmente em exportação de café, tinha a maior exportadora brasileira. Ele diversificou os negócios, já que fundou o supermercado Sirva-se, montou a TV Excelsior. Ele tinha mais de 30 empresas em setores diferentes.
Já o Celso tinha uma atuação forte em seguros.
Acontece é que na época do Golpe, o Simonsen já sofria um ataque sustentado em veículos da mídia, entre eles Estadão que esculachou o Simonsen.
Quais eram as denúncias
As denuncias contra o Simonsen começaram com os negócios de café. Em 1960, ele resolveu criar uma subsidiária brasileira na Suíça para intermediar negócios de café com a Europa, EUA e com planos de entrar na Ásia.
O Saulo Ramos [ex-ministro da Justiça] foi advogado do escritório que defendeu o Simonsen conta que o ponto culminante foi quando o Simonsen teve a ideia de entrar no varejo, ele queria chegar à etapa final, e os concorrentes internacionais pensavam que ele iria dominar todo o processo.
(No fim do processo, Simonsen poderia chegar ao que é hoje a Starbucks americana.)
O único jornal que colocou a versão do Simonsen foi a Última Hora, do Samuel Weiner.
Ficou muito nitido que o interesse era estrangeiro e o Herbert Levy era ligado a esses grupos estrangeiros e foi usado como um instrumento para travar o Simonsen aqui.
A Varig, nos dez anos antes da cassação da Panair, tentou conseguir concessões de voos para a Europa e não conseguiu. E o Rubem Berta [que foi presidente da Varig] era um cara muito enérgico e fez uma campanha imensa contra os sócios da Panair.
O uso dos seus veículos
O Janio de Freitas conta que o Simonsen não usou os seus veículos de comunicação para ajudá-lo politicamente.
Uma evidência é que, havendo os ataques contra ele, inclusive antes do Golpe, ele não usou a Tv Excelsior para se defender.
Como acabou o Simonsen
Ele acabou no meio turbilhão, porque foi muito rápido esse processo.
Ele já aparece nos jornais no contexto de escândalo.
Em dezembro de 1963, o Herbert Levy consegue instalar uma CPI contra o Simonsen. A CPI conclui os trabalhos um mês depois do Golpe, acusando-o de 14 denuncias.
Um mês depois, a Comal, que era a empresa de café, foi proibida de operar e o café sustentava os negócios do grupo.
Em outubro de 1964, a esposa do Simonsen morreu e em fevereiro de 1965 a Panair foi cassada. E dias depois ele morreu em Paris.