1968: Robespierre trai Cohn-Bendit. 1961: Globo persegue Brizola
Esta ansioso blog já tratou de "João Goulart - uma biografia" , do historiador Jorge Ferreira.
A primeira impressão foi que Ferreira tivesse aplicado ao historialista Elio Gaspari, aquele de múltiplos chapéus, o devido tratamento: Gaspari ajudou a propagar a lorota de que Jango estava marcado para morrer porque gostava de coristas.
Com a evolução da leitura, porém, o ansioso blogueiro percebeu que Ferreira tratava Gaspari como um Heródoto, um Tucídides.
(Já houve um americano que o considerou Joaquim Nabuco. Breve, o Magnolli , o Conti ou o Villa o chamará de "o nosso Braudel".)
Gaspari, como se sabe, escreveu infindável obra para provar que Geisel e Golbery são o Washington e o Jefferson da "Democracy in Brazil".
(Que Tocqueville perdoe a intimidade.)
Embora Maurício Dias tenha a suspeita - de que esse ansioso blogueiro compartilha - de que o Golpe de 1964 tenha começado e acabado em Washington.
Na pág. 12, o Globo desta quinta-feira sustenta tese interessante, a propósito dos 50 anos da Rede da Legalidade de Brizola - clique aqui para ler -, que deu posse ao Presidente constitucionalmente eleito, João Goulart.
Ferreira sustenta que Brizola iludiu a esquerda.
Com a vitória retumbante de 1961, Brizola, um ilusionista, cruza de Átila, o rei dos Hunos, e Houdini, instigou a "esquerda" a ir para o "na lei ou na marra".
E deu no que deu, aquilo que o Globo, em editorial na primeira página do dia 2 de abril de 1964 chamou de a ressurreição da democracia.
(Dias depois, o Globo, dedo-duro, publicava a lista dos intelectuais e artistas que mereciam ser "justiçados" pelos ressurretos democratas.)
Foi tudo culpa da vitória do Brizola, que restabeleceu a democracia em 1961.
Mas, o próprio professor Ferreira mostra que Jango não esboçou a menor reação.
Não acreditava no Golpe, nem na capacidade de impedí-lo.
Por quê ?
O professor Ferreira ele mesmo explica: porque San Tiago Dantas, mineiro, sabia que os mineiros Magalhães Pinto e Afonso Arinos tinham o apoio militar e diplomático dos Estados Unidos.
Se Magalhães Pinto decretasse Minas um "Estado Livre Associado", como Porto Rico e a Inglaterra, Lyndon Johnson e Lincoln Gordon apoiariam incondicionalmente.
Mauricio Dias tem outra explicação, muito razoável.
Jango não resistiu porque percebeu que tinha perdido a política.
Se em 1961 e no Plebiscito tinha a Lei e a Constituição ao lado dele, não conseguiu inscrever as Reformas de Base no mesmo quadro.
A UDN e o PiG (*) conseguiram transformar as reformas numa ruptura.
E, aí, sim, o radicalismo de Brizola e Julião pode ter ajudado os conservadores (e golpistas) a mobilizar uma parte da classe média.
(Embora, como lembra Ferreira, o IBOPE daqueles dias mostrasse elevada popularidade de Jango e apoio às reformas.)
Mas, ponderam Dias e Ferreira, o PSD (com a traição de JK - PHA) já tinha dilapidado a base parlamentar que sustentou a posse em 1961 e derrubou o parlamentarismo em 62.
E o Brizola já não contava mais com o Comandante do III Terceiro Exército.
Agora, daí a querer dizer que Brizola tapeou a esquerda vai uma pequena distância.
É como dizer que Robespierre de 1789 tapeou o Cohn-Bendit de maio de 1968.
Como se Cohn-Bendit se inspirasse no Comitê de Saúde Publica da Revolução Francesa para incendiar Paris.
Cohn-Bendit só se deu bem - e a vitória ainda não terminou - em obra monumental de outro historialista, também colonista (**) do Globo.
É que o Globo não se emenda.
Não engoliu até hoje as duas vitórias do Brizola para Governador do Rio - contra o Roberto Marinho.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.