Rodrigo à Globo: música pra que ?
O Conversa Afiada reproduz post do Rodrigo Vianna, no Escrevinhador: Herrera para a Globo: “música pra que?”.
publicado
21/05/2012
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O Conversa Afiada reproduz post do Rodrigo Vianna, no Escrevinhador:
Herrera para a Globo: “música pra que?”
por Rodrigo Vianna
O Herrera já jogou no meu time, o Corinthians. Centroavante esforçado, o argentino está longe de ser craque. No Botafogo, tem ficado no banco. Nesse domingo, o Fogão perdia de 1 a zero quando Herrera veio a campo, no início do segundo tempo. Ele fez a diferença. Placar final: Botafogo 4 x2 São Paulo F.C., com 3 gols do Herrera.
O jovem repórter que acompanhava o Botafogo, na transmissão da Globo, correu até o Herrera no fim do jogo. Fez o correto: o argentino era o personagem do jogo. Mas o repórter caiu numa cilada. Resolveu ser “engraçadinho”, talvez contaminado pelo clima geral nos programas esportivos da emissora (atenção, nas transmissões há muita gente na Globo que cobre futebol com classe e competência; mas, nos programas, a regra geral da nova geração é ser “soltinha” e “engraçadinha”): em vez de perguntar sobre o jogo, resolveu perguntar que música Herrera pediria no “Fantástico”.
Aparentemente, Herrera (da mesma forma que esse escrevinhador) desconhecia o fato de que goleadores tem o “direito” de pedir musiquinha no programa da Globo. O argentino foi seco: “Música pra que?” O repórter insistiu, e Herrera: “não, eu não peço música não; fico na música minha…” Mas “nem em castelhano”, quis saber o jornalista: “Não, nenhuma”.
Tudo isso ao vivo, como se pode ver aqui:
Herrera virou tema no twitter, é claro. Centenas, milhares de mensagens… A maioria, de apoio ao atacante.
Mais tarde, no “Fantástico”, a surpresa (eu disse “surpresa”?). A Globo resolveu tripudiar. Tratou o comportamento do goleador botafoguense como “mistério”. Como se houvesse algum. O cara simplesmente disse “não”. É simples.
Para o Herrera, e milhares de torcedores, essa história da Globo querer pautar horários, comemoração e até a trilha sonora dos gols é de uma babaquice sem tamanho.
Pra completar a noite, um repórter (de Esportes) da Globo resolveu atacar o Herrera. E escreveu o seguinte no twitter: “Golaço do Fantástico. Tratou com normalidade e humor, o babaca do Herrera.”
A pancadaria entrou noite adentro. Foi mais um episódio didático, a mostrar como trabalham aqueles que se dizem preocupados com a defesa da “liberdade de imprensa” no Brasil. Um leitor, no twitter, fez o comentário certeiro:
@adamastaquio “Essa é a Globo e seu modo truculento de agir! Imagina o q a Globo n faz com coisa séria então… Tipo eleição!”
A gente sabe bem… Viu em 82 com o Brizola, em 89 com o Lula. E, quando se achou que isso estava superado, voltaram a atacar em 2006 e 2010…
O caso Herrera talvez ajude um público menos politizado a entender como eles operam. Por isso, tanto político em Brasilia tem medo de dizer não pra Globo. Precisa ser casca grossa, feito o Herrera…
Não se sabe o que vai rolar. De repente, pedem pra ele se retratar nos próximos dias, pra amaciar com a Globo. Pode até ser. Mas espero que o Herrera siga firme e honre as tradições de Paulo Cesar Caju, Afonsinho e João Saldanha – botafoguenses ilustres que não baixavam a cabeça pra milico em plena ditadura, muito menos pra jornalista (ou jornalismo) babaca.
Viva o Herrera!
Em tempo: não de deixe de ler também impagável análise sobre a linguagem do verdadeiro, único sucessor do Galvão:
Vanessa vê TV
VANESSA BARBARA
Ele caiu? Sim, mas só pela metade
"Tem gente que gosta de futebol, tem gente que adora futebol e tem gente que não gosta de futebol", enunciou Cléber Tadeu Machado, locutor esportivo que completou 50 anos.
Apesar de às vezes empurrar os colegas em rede nacional (ele foi pego pelas câmeras dando um chega para lá em Caio Ribeiro, por questões de enquadramento), Machado se consagrou como principal locutor da Globo, atrás apenas de Galvão Bueno.
Seu currículo inclui transmissões de Fórmula 1, judô, hipismo, bicicross, natação, handebol, boxe e Carnaval. É também o nosso melhor filósofo, ainda que poucos saibam disso.
No ofício, encarna um Kierkegaard bonachão e rosado, dilacerado pela angústia e pela Weltschmerz (desespero de quem sabe que a realidade física não pode satisfazer as demandas da alma). Seus arroubos de existencialismo são brilhantes: "Isso não é falta, Arnaldo? Isso não é pênalti, Arnaldo? O que é isso, Arnaldo?".
É um filósofo da dialética, da complexidade, da confusão: "Volta e meia o Rogério Ceni acaba tomando um gol enquanto está de joelhos, mas você tem de pensar que antes disso ele estava de pé", explica. "Ou seja, ele caiu, mas caiu só pela metade e acabou de joelhos."
Niilista, admite que "jogar bola muita gente joga, quero ver jogar bola sem a bola". E lamenta que "hoje você espirra e não ouve mais 'saúde' do cara que está ao lado. O mundo te deseja saúde. Ou não".
Há quem tenha ganas de lhe dar um abraço, mas ele dispensa esse tipo de interação. É o inventor do método autossocrático na TV, em que se coloca no lugar do interlocutor, faz uma pergunta e ele mesmo dá a resposta.
Sua digressão mais célebre ocorreu no "Arena SporTV", em 2008. "Houve uma crise aérea? Houve. A vida inteira? Não. Todo tempo em que o Brasil teve transporte aéreo houve crise? Não. Mas houve uma? Houve. A discussão é pontual? É, mas não é! Porque é estrutural."
(...)
Só o Cléber poderia suceder o jenio, aquele do depois do empate da Holanda: "a situação já esteve melhor para a seleção brasileira" - PHA